"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

domingo, 14 de outubro de 2007

PESCAR, o regresso à Natureza



Pescar, tal como caçar, é das actividades que o Homem desenvolve à mais tempo. Porque motivo o Homem mantêm ao longo dos tempos esta actividade?
Desde os tempos mais remotos que o Homem pesca e caça. É sem sombra de dúvida, uma das actividades mais antigas e que ainda desenvolve nos dia de hoje. Nos primórdios, com outros objectivos, de certa forma diferentes dos motivos porque hoje os pescadores se acumulam nos molhes, margens, pontões, barcos e areais, espalhados por todo o lado, onde quer que exista uma massa de água.
A pesca, como desporto, teve um crescimento surpreendente nos últimos anos. Embora não se saiba ao certo quantos pescadores existam em Portugal, (nunca se fizeram estatísticas para a pesca, nem se sabe quanto representa, em termos económicos), sugerem-se valores próximos de um milhão de pescadores, integrando todas as modalidades existentes nos dois grandes grupos: mar e água doce.
Segundo a Direcção Geral de Florestas, em 1997 (último ano com informações disponíveis) foram emitidas 254.000 licenças de pesca de água interiores. Por comparação, em 1980 o número de licenças aproximou-se das 74.500. Verifica-se que, nos 17 anos que separam os dois valores, o número de pescadores mais que triplicou. No entanto, pouco ou nada se fez em termos de protecção para as espécies piscícolas quer de mar, quer de água doce, necessitando-se urgentemente de medidas que ordenem e fiscalizem de forma efectiva, esta actividade.
Com efeito a Lei da Pesca que neste momento regulamenta a Pesca Desportiva em Águas Interiores, remonta a 1962 encontrando-se desactualizada e perfeitamente desajustada do conceito “pesca desportiva” que existe actualmente. O projecto da nova Lei da Pesca em Águas Interiores, aguarda já há alguns anos, debate na Assembleia da República, não se vislumbrando quando tal ocorra, apesar dos protestos dos pescadores e respectivas Associações e Clubes. Mesmo a fiscalização nas Águas Interiores é insuficiente e salvo raríssimas excepções, inoperante e com manifesta falta de meios de intervenção. Para se ter uma ideia concreta desta carência, basta referir os oito barcos existentes em todo o território nacional, pertencentes ao Corpo da Guarda Florestal, ou os 727 elementos que constituem este efectivo.
Por outro lado, é desperdiçada a possibilidade de desenvolvimento para algumas regiões do Interior de Portugal, algumas delas bastante carenciadas, considerando a perspectiva de crescimento deste tipo de actividades, ligadas ao chamado Turismo da Natureza.
Apesar destas contrariedades, motivadas pelas desatenções de quem tutela estas matérias, cada vez há mais gente apaixonada pela pesca, indiferente aos resultados das pescarias.
A grande maioria destas pessoas não tem porventura, como principal objectivo obter produtos para lhes servir de alimento, como acontecia na infância da Humanidade. Provavelmente, se fossem questionadas porque pescam, qual o objectivo de estarem ali, ficariam momentaneamente sem palavras e acabaríamos por não obter uma resposta concisa e concreta.
No entanto, sem o saberem na ponta da língua, os pescadores sabem porque pescam. Sabem que precisam de pescar.
Não de apanhar peixe, mas de pescar. Sabem que precisam de sentir aquele ar puro que não respiram durante a atarefada semana de trabalho. Sabem que precisam de ouvir as gaivotas e os rouxinóis nos canaviais, ver os quadros que a Natureza pintou só para eles, sentir os cheiros que produziu só para eles.
A captura do peixe é sempre um desafio acrescido, claro. Será esta a fase mais primitiva de todo o processo. A captura. O conseguir enganar e dominar um ser que não vive no mesmo meio que o nosso. Vive para lá daquela fronteira limite que é aquela massa líquida, tornada cortina que não permite a permanência e entendimento a estranhos, que não sejam daquele reino.
Cada vez mais, mais pessoas procuram esta actividade. Cada vez mais, o Homem sente necessidade de se identificar com a Natureza, cada vez mais longínqua do nosso dia a dia.
Este é um dos passatempos que não escolhe classes sociais, idades ou sexos. Este é sem dúvida um desporto-passatempo de massas, colocando todos no mesmo patamar, obrigando aos mesmos desafios e dando os mesmos benefícios.
Pouca diferença faz o local onde pescamos e os peixes que tentamos capturar. Cada um terá os seus motivos que o levaram a escolher este ou aquele tipo de pesca. O que é realmente importante é que cada um de nós pesque o tipo de peixe que mais gosta e que o faça nos locais onde mais gosta. O que é importante é que cada um de nós pescadores, se sinta integrado naquele pedacinho de Natureza que está à nossa volta e se sinta feliz, quer consiga ou não pescar o peixe da sua vida…

Texto da minha autoria (actualizado), para o Correio da Manhã de Junho 2001

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Gomes, desde já peço desculpas por não ter conhecimento deste teu Blog á mais tempo, foi minha distração.
Quero desde já dar os meus parabéns para este teu trabalho fabuloso numa área por muitos esquecida e como sabes nos tem unido ao longo destes anos apesar da distância!
Cumprimentos de Jorge Osório para todos....

José Gomes Torres disse...

Obrigado, Jorge!
O blog é nosso, pelo que vão sempre surgindo por aqui coisas novas. Um abraço também para todos vocês.