"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

quarta-feira, 31 de março de 2010

Você sabe mesmo lidar com anzóis? (Parte II)


Para começar a ler este texto pela 1ª parte, CLIQUE AQUI.

Anzol de farpas, vulgarmente utilizado para iscos naturais

Técnica do Avanço, Corte e Retrocesso

Este método exige um alicate de corte, suficientemente robusto e capaz de cortar o aço-carbono dos anzóis, em especial os de maior dimensão. A vantagem deste método de remoção é ser normalmente bem sucedida, mesmo em anzóis grandes.


Depois de cortar a farpa, retirar o anzol, puxando em sentido contrário


A técnica de avanço, corte e retrocesso é mais indicada quando o anzol está próximo da superfície da pele, já no sentido da saída da mesma.
O objectivo é aceder à farpa do anzol – pode ser necessário prosseguir com a penetração! – cortar o anzol após a mesma com o alicate de corte e retirar o anzol no sentido contrário ao da sua entrada.

Em anzóis espetados profundamente pode ser necessário fazer avançar o mesmo para aceder à farpa

Como em todos os métodos referidos, estas operações devem ser efectuadas com destreza e rapidez de forma a diminuir o stress da vítima.

Técnica de Corte e Avanço do Anzol

Relativamente parecida com a técnica anterior, também exige a utilização de um alicate de corte adequado. Neste caso a parte do anzol que se deve cortar é a argola ou patilha de empate, consoante o tipo que o anzol em causa disponha.

Depois do corte, fazer avançar o anzol, puxando-o pela parte já exposta do bico

Este método é particularmente adequado quando o anzol possuiu farpas múltiplas e estas estejam enterradas. Estes anzóis são bastante utilizados na pesca com iscos naturais - vermes, com o objectivo de segurar com mais eficácia o isco o corpo do anzol.
Passa assim por ser o método alternativo ao anterior, empregado quando não é possível retroceder o movimento do anzol, caso as farpas adicionais tenham penetrado na vítima.
Depois de cortado o dispositivo de empate (argola, olhal ou patilha) faz-se avançar o anzol de forma a poder ser retirado, por exemplo, com a ajuda do mesmo alicate, sem no entanto o cortar.

Em caso de penetrações profundas ou anzóis com farpas, não é aconselhável puxar para trás, pelo que esté método é o recomendado

Conclusão

Estas intervenções, apesar da aparente facilidade de execução, não são fáceis de realizar. Os intervenientes devem estar conscientes de que há necessidade de algum à-vontade e até algum sangue-frio, para que sejam bem sucedidas. Recorrer aos cuidados dos profissionais de saúde deve por isso ser – reforço a ideia – obrigatório sempre que nos assalte qualquer dúvida de como proceder ou se a vítima não apresentar serenidade que permita que qualquer uma destas técnicas seja realizada no local onde ocorreu.

É que pode até acontecer em casa, quando preparamos baixadas, estralhos, terminais ou substituímos anzóis triplos e afins!

Recomendações

Tipos de anzol
Existem inúmeros tipos de anzóis, concebidos para as mais diversas modalidades de pesca. O seu formato deve ser considerado, quando precisamos de os remover de um local em que se espetou acidentalmente.



Os anzóis triplos
No caso de anzóis triplos e múltiplas penetrações, a tarefa poderá ficar mais facilitada se separar cada anzol espetado, retirando-os um a um e utilizando depois a técnica mais adequada a cada um. No entanto, se estiver apenas um dos anzóis envolvido, poderá ser mais fácil manusear o conjunto, se utilizar as técnicas da linha de pesca e do avanço, corte e retrocesso. Ainda assim, vale a pena eliminar os bicos e farpas dos restantes que não estejam cravados, evitando assim novas picadas acidentais, quer ao paciente quer a quem o tenta ajudar.

O anzol triplo deve merecer uma atenção especial

Kit de emergência

Por uma questão de precaução, tenho no meu barco, aquilo que considero o Kit de Emergência para estas ocasiões:
- Um alicate de corte - capaz de decepar anzóis 5/0 de mar, um spray anestesiante, bisturis em embalagens individuais esterilizadas, algumas comprensas, soro fisiológico para limpeza de feridas, desinfectante tipo Betadine, algodão em rama e pensos de vários tamanhos.
Considere que o gelo ou os acumuladores térmicos de frio da nossa geleira, quando disponíveis, podem servir em caso de necessidade, como um anestesiante de recurso.

Kit de emergência para anzóis espetados acidentalmente


Cuidados adicionais
Normalmente, nestes casos em que procedemos à remoção dum anzol, não é necessário recorrer à administração de antibióticos, mas como sabemos, qualquer cidadão deve ter a vacinação anti-tetânica em dia, que recordo, deve ser administrada de dez em dez anos, até ao fim das nossas vidas.
Ainda assim, depois de qualquer intervenção deste género, deve-se quanto antes proceder à desinfecção do ferimento com qualquer produto do género Betadine, mantendo a terapêutica e os necessários cuidados de verificação até à cicatrização da ferida.


Texto da minha autoria e publicado na revista Mundo da Pesca, Especial Mar 2009

domingo, 21 de março de 2010

Cenários truteiros

Cada uma das pescas que fazemos tem pelo menos um factor diferente das restantes.
No caso da pesca às trutas, o que mais me fascina é o cenário em que se desenrola.
A água fria e cristalina, as quedas de água, a mística das manhãs de nevoeiro e frio, são elementos que dominam a paisagem e nos envolvem, obrigando-nos a pertencer a ela.
A pesca decorre num meio líquido que está em constante movimento.
Nós próprios estamos em constante movimento também, tentando as trutas aqui, ali e acolá. Elas próprias, estão de igual forma em permanente movimento e quando não são enganadas pelo pescador denunciam-se apenas com suas silhuetas, tal como relâmpagos escuros, que ficamos na dúvida se vimos acontecer.

Aqui ficam algumas das primeiras fotos deste ano, sem comentários, só para observar...







terça-feira, 16 de março de 2010

A Catch Magazine


Uma das revistas electrónicas ou e-zines, que me dá particular gozo visitar na Web, da qual sou subscritor e me identifico bastante, é a Catch Magazine, que conta já com décima edição saída neste mês de Março. Inteiramente gratuita, conta com a participações de variados correspondentes de várias partes do globo que têm em comum duas grandes paixões, que também eu tenho: a pesca à mosca e a imagem, seja em fotografia ou filme. Esta mescla de actividades dá origem a um espaço de soberbas fotos e vídeos de pesca, como não conheço em mais lugar algum, quer na web quer em papel impresso.
A espectacularidade das imagens que aqui encontramos, em que muito raramente se observa mais que um peixe capturado, é de facto um enorme contraste com algumas imagens que encontramos em diversos espaços pessoais de pesca, na net. Não percebo as fotografias de alcofas abarrotar e serapilheiras com peixes perfilados pela direita, como se estivessem em parada militar, na presença do pescador que empunha a cana, em pose de matador… Será que precisam de provar alguma coisa a alguém?
A Catch Magazine auto-intitula-se como o jornal oficial da pesca à pluma, fotografia e filme e apresenta-nos em cada número, vários cenários de pesca e alguns vídeos com possibilidade de visualização em HD - Alta Definição. Neste modo, convém que o acesso à net, seja com uma ligação ADSL de razoável velocidade para evitar paragens durante o visionamento do filme.
Por isso, recomendado! Para acesso directo clique aqui.

terça-feira, 9 de março de 2010

Você sabe mesmo lidar com anzóis? (Parte I)

Embora escrito de forma simples, este texto é baseado no documento “Fishhook Removal” dos americanos Matthew Gammons, M.D. e Eduard Jackson, M.D., docentes do Michigan State University College of Human Medicine, East Lansing, Michigan. No entanto, sofreu algumas adaptações e opiniões da minha parte, fruto de 30 anos a mexer em anzóis, de vários tamanhos e feitios.

Embora não sejam muito frequentes os acidentes pessoais envolvendo anzóis, quando acontecem, devemos estar preparados para lidar com eles. A maioria destes ferimentos não é grave e pode até ser tratado no local onde ocorre. Apesar disso, todos os episódios envolvendo anzóis cravados em pessoas, exigem uma avaliação cuidadosa do sítio onde o anzol se encontra, antes de tentar a sua remoção.

Se o traumatismo ocorreu na região ocular, por motivos óbvios nunca deve ser tentada a remoção do anzol. A vítima deve ser de imediato transportada ao hospital e observada por um especialista, removendo-se apenas tudo o que for possível das imediações do anzol e que eventualmente a ele esteja ligado, como a linha, a amostra, os chumbos ou até eventualmente peixes... Se tal não for possível devem tentar imobilizar-se estes acessórios, para que não perturbem ainda mais a vítima.

Por outro lado, sempre que alguma situação nos suscite a mais pequena dúvida relativamente à possibilidade de executar estas operações de forma segura, o paciente deve ser sempre levado ao hospital, onde outros meios de tratamento, como os anestésicos, a pequena cirurgia ou outros meios de diagnóstico como o raio-X, podem proporcionar uma melhor resolução do problema, com os ideais cuidados médicos.


Diversos tipos de anzóis

Em qualquer situação, o primeiro passo é sempre avaliar o estado do paciente, colocá-lo numa posição confortável tanto quanto possível e sobretudo acalmá-lo. De seguida deveremos examinar o local do ferimento provocado pelo anzol e decidir em função do local e tipo de tecido envolvido, se é possível a sua remoção ou se será melhor encaminhar a vítima para o hospital.
No caso de considerarmos ser possível a sua remoção sem recorrer ao hospital, em função do tipo de anzol, - se é simples, com farpas múltiplas ou triplo, devemos escolher qual o método ou métodos a usar para a sua remoção.

As técnicas
As técnicas mais comuns de remoção de anzóis no local de pesca dependem fundamentalmente do tipo de anzol envolvido, da profundidade da penetração no tecido e do local/tipo de tecido.
Assim, estão identificadas quatro técnicas básicas, que depois de conhecidas, nos podem ajudar a resolver um incidente envolvendo anzóis e pessoas, que poderão até nem ser pescadoras:

1 - Técnica do retrocesso, em que o anzol é simplesmente puxado para fora.
2 - Técnica da linha de pesca, com o objectivo de anular a barbela.
3 - Técnica de Avanço, Corte e Retrocesso do anzol.
4 - Técnica de Corte e Avanço do anzol

1 - Técnica do retrocesso, anzol puxado para fora.

A técnica do retrocesso é método mais simples, mais lógico e mais fácil de executar, mas o menos bem sucedido na remoção e sobretudo mais doloroso devido à actuação da farpa nos tecidos. Por outro lado não cria ferimentos adicionais, como outros métodos originados pela remoção. Funciona bem para os anzóis com farpas simples e pequenas, espetados superficialmente.


Apertar lateralmente e fazer sair o bico do anzol na direcção oposta, empurrando a zona do empate para baixo

Durante a execução desta operação deve ser aplicada uma ligeira pressão à pata do anzol de maneira a que a farpa desencoste do tecido, enquanto se comprime lateralmente a região lesionada. Desta forma pretende-se ovalizar o caminho aberto pelo anzol e pela farpa, mas que agora irá ser percorrido em sentido contrário, criando assim espaço um pouco mais livre, para a farpa se deslocar com o mínimo de estragos. Quantas vezes já fizemos algo parecido com isto, quando inadvertidamente um anzol se espetou na nossa roupa?
No caso de um anzol de pequenas dimensões em que é difícil pegar, podemos prender um pedaço de fio de pesca à curvatura do mesmo, de forma a poder puxar com mais firmeza.



Puxar na direcção oposta. Com anzóis pequenos, pode-se usar um pedaço de fio para atar na curvatura

A remoção deve ser decidida mas cuidadosa, sendo conveniente um prévio cálculo mental da manobra. Se for detectada alguma resistência durante a remoção e esta estiver a decorrer numa região em que possam existir tendões, a intervenção deverá ser interrompida de imediato e considerado recurso a outra técnica ou mesmo intervenção hospitalar.

Este método deve ser utilizado com precauções adicionais se o anzol de encontrar localizado em determinados pontos críticos, por motivos óbvios. Assim, no caso dos lóbulos das orelhas, extremidade do nariz ou qualquer outra parte do corpo mais sensível e que não esteja solidamente fixa ao corpo, poderão em situações limite, ocorrer lesões adicionais se o anzol for grande e puxado com demasiada impetuosidade. Quando se utiliza esta técnica na variante auxiliada por um pedaço de linha de pesca para facilitar a tracção do anzol, deve ter-se o cuidado de alertar os presentes para a possibilidade deste sair de forma brusca, podendo em casos extremos, ferir alguém mais desprevenido.
Segundo os especialistas, esta técnica é a menos invasiva porque produz menos traumatismos nos tecidos para além dos que já existem e pode ser usada mesmo sem qualquer ferramenta adicional que facilite a remoção de anzóis.

2 - Técnica da linha de pesca, para anular a barbela.
Esta técnica é utilizada em ocorrências em que anzol possui a farpa exposta ou quando se encontra quase nessa condição. Se estivermos em presença da última hipótese, há necessidade de prosseguir com a penetração – tarefa que não é facilmente exequível por pessoas mais impressionáveis, de maneira a que esta fique efectivamente exposta. É um método adequado em zonas de pele e/ou músculo e que não deve ser utilizado em locais delicados e/ou com tendões ou nervos de qualquer espécie.


Depois de colocar a laçada de nylon, puxar o anzol para trás, retirando depois o nylon

Com a farpa exposta deve cortar-se um pouco de linha de pesca – nylon de preferência, de diâmetro aproximado ao tamanho do relevo da barbela. De seguida e dobrando a linha precisamente no local da barbela deve proceder-se à remoção do anzol, puxando no sentido contrário ao da penetração.

O objectivo é que o nylon dobrado na farpa, anule o efeito desta. Depois do anzol afastado, retira-se rapidamente o nylon em sentido contrário. Já vi o recurso a esta técnica pelo pescador profissional americano Hank Parker. Enquanto rodava um vídeo de pesca ao achigã, acidentalmente espetou um anzol num braço, aproveitando para fazer esta demonstração, que certamente não estava prevista no guião do filme. A gravação prosseguiu, enquanto ele removeu o anzol com algum à-vontade, retomando a pesca logo após este percalço!

Esta técnica é a indicada se não possuirmos no local qualquer ferramenta capaz de cortar o anzol e remover a farpa. Se tal for possível – cortar o anzol pela farpa, é preferível o recurso à técnica seguinte.
(Continua...)

Texto da minha autoria e publicado na revista Mundo da Pesca, Especial Mar 2009