"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

sábado, 21 de novembro de 2009

A epicondilite do pescador

Retirado de http://www.healthyelbows.com/

Há cerca de um mês e meio atrás e depois de um esforço exagerado numa tarefa banal, apercebo-me duma dor no braço junto ao cotovelo, com tendência para o incomodativo, um ou dois dias depois.
Ao contrário do habitual não tinha tendência para passar, mas pelo contrário, a espalhar-se pelo resto dos músculos do braço até ao punho. Em conversa com um fisioterapeuta amigo, diagnosticou-me pelo telefone, uma epicondilite lateral ou “cotovelo de tenista”, devido ao esforço efectuado. O certo é que de tenista, só tenho mesmo o cotovelo.

Aparentemente, esta lesão é também bastante comum nos pescadores desportivos que façam lançamentos frequentes. As modalidades de pesca ao achigã com iscos artificiais, pesca à pluma e spininng de mar, estão entre as que mais originam este tipo de lesões, quer devido ao tipo de utilização do braço no lançamento, quer pelo grande número de lançamentos. Surfcasting por exemplo, é menos prejudicial, visto que no lançamento todo o corpo roda e actua, não só os braços, bem como o número de lançamentos é normalmente bastante inferior.
Quando ao que na realidade acontece, parece haver duas correntes de opinião. Alguns especialistas referem a lesão como o rompimento de micro ligações do tendão ao osso e consequente inflamação, utilizando no tratamento anti-inflamatórios, enquanto outros referem a necrose de partes do músculo junto à ligação, devido à falta de irrigação sanguínea em quantidade suficiente durante o esforço e tratam apenas com analgésicos, denominando até a lesão por "infarto do cotovelo".
Uma coisa é certa: a recuperação é extremamente longa, visto que vai de seis meses a um ano. Como a principal receita é a imobilização da área, contenção na utilização do braço e mais tarde fisioterapia, parece que vou (tentar) passar uns meses sem pescar. Haverá pior sorte para um pescador incorrigível?

Prevenção da epicondilite lateral
A melhor forma de prevenção da epicondilite lateral do cotovelo é evitar o excesso de esforço. Se ocorrer dor durante a actividade, (não me aconteceu), deve-se parar e descansar o cotovelo e efectuar pausas frequentes. A lesão pode surgir ao usar equipamento inapropriado e com muito peso. Más posturas e técnicas, podem igualmente ocasionar cotovelo de tenista. Também é importante fazer alongamentos e aquecimento antes de usar as extremidades superiores. Deve-se colocar gelo no cotovelo logo após a actividade e surja dor, descansar periodicamente para evitar exagero muscular e exercitar frequentemente os músculos dos braços, antebraços e punhos.
Foram inúmeros os sítios da net que consultei, mas deixo como referência pela simplicidade da explicação o Fisioterapia no Blog, para além da Revista Brasileira de Ortopedia e Healthyelbows.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Plumas leves e plumas pesadas


Entre o equipamento de pesca à pluma, mais dois grandes contrastes no meu equipamento:

Em cima, uma cana World Wide Sportsman, modelo Gold Cup de 8”, para linhas #12/14. Adequada a plumas pesadas para os grandes predadores de mar. Com esta, não é só preciso ter jeito, também precisamos de força.

Em baixo, uma cana Browning , modelo Black Canyon de 7,5” para linha #3. Óptima para pequenos ribeiros fechados, apresentações discretas e peixes mais pequenos. Um espectáculo com plumas secas...

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O Fundo da Linha

Embora seja claramente contra determinados actos radicais e até incoerentes praticados por associações ambientalistas, não posso ficar indiferente ao vídeo divulgado pela Greenpeace, com o nome ”O Fundo da Linha” com o objectivo de alertar para a destruição causada pela pesca de profundidade em águas internacionais. Este vídeo conta com o apoio de Sigourney Weaver e insta os governos de todo o mundo a adoptar medidas concretas e urgentes para defender a vida marinha que se esconde nas profundezas dos oceanos. Em Novembro deste ano a Assembleia Geral das Nações Unidas vai voltar a abordar este tema e vai decidir os próximos passos relativamente à implementação da resolução 61/105.



Esta resolução pede a tomada de medidas imediatas que administrem os stocks de peixe de maneira sustentável e que protejam os ecossistemas marinhos vulneráveis de práticas de pesca destrutivas. Desde o dia 16 de Outubro, que a Greenpeace está na estrada para sensibilizar consumidores para as ameaças que os ecossistemas vulneráveis em alto mar enfrentam e pressionar os retalhistas a tomar a liderança e parar de comercializar espécies de peixe de profundidade. Estas grandes empresas têm o dever de garantir aos seus consumidores a sustentabilidade de todo o peixe que vendem e de não encorajar a destruição dos últimos refúgios de vida marinha do planeta. Acredito que este vídeo seja uma boa oportunidade para divulgar as ameaças que os ecossistemas das águas profundas enfrentam e que muitos ignoram. Mas depois disto já não têm desculpa…

Para mais informações visite o site da Greenpeace Portugal.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Exóticas, desde quando?

Periodicamente surgem rumores nos meios piscatórios, sobre a erradicação das espécies piscícolas exóticas ou alóctones, que vivem no nosso país. Desta vez, está em cima da mesa, ou se quisermos em discussão e accionado pelo ICNB - Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, a revisão do Decreto-lei 565/99 de 21 de Dezembro ou como é conhecido, o Decreto-lei das espécies exóticas.
O ICNB tem no seu sítio da internet, em “Estudos e Projectos”, uma proposta de revisão para o DL atrás referido, reforçando a necessidade de seguir as Directivas e Convenções Europeias e também Ibéricas, no que toca à erradicação e controle de espécies exóticas.
Mais uma vez, surge a lengalenga da erradicação das espécies exóticas de água doce, em especial as que já cá temos há bastante tempo e pescamos há muito. Neste aspecto, a pesca de mar está a salvo, desta acerbada vontade em querer só o que é nacional. Também é certo que com as recentes Portarias 143 e 144/2009, os pescadores de mar nem precisam de mais preocupações…

As mais exóticas e as menos exóticas
Se quando pensamos em espécies piscícolas exóticas consideramos a perca-sol, o peixe-gato e a lúcio-perca, isto só para referir as que têm dois nomes de família e são menos interessantes em termos desportivos, não podemos esquecer que também estão dentro do mesmo saco rotulado de “EXÓTICOS A ERRADICAR”, a carpa, o achigã e a truta arco-íris, só para dar três exemplos importantes.
A carpa, embora exótica, é um peixe muito desportivo e que muitos pescadores procuram

Uma vez que não existem estatísticas disponíveis sobre o que se pesca em águas interiores, vou valer-me da minha experiência de pescador desportivo, com licença desde há trinta anos: Seguramente, 95% dos objectivos de pesca em água doce visam estas espécies e que como sabemos, até vivem preferencialmente em barragens construídas pelo Homem. Estes peixes são simplesmente as espécies mais procuradas pelos pescadores de água doce!

Onde começa o exotismo?
Importa para já referir que o primeiro a criar exotismos e prevaricar, é o próprio Homem que vem agora chama “exóticas” a estas espécies. A alteração ocorrida num rio, resultante da edificação de cada barragem que construímos, transforma um sistema lótico - de águas correntes, num léntico - de águas paradas e de imediato interrompe a migração reprodutiva das espécies autóctones como o barbo, a boga o sável, a enguia e a lampreia.
Refira-se que o sável e a enguia estão classificados “Em Perigo”e a lampreia “Criticamente em Perigo” no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, disponível no mesmo site do ICNB, embora continuem airosamente a fazer parte das ementas dos restaurantes ribeirinhos, frequentemente com direito a reportagem de televisão e tudo! Onde está a ASAE agora, para fiscalizar a forma como são obtidas estas espécies constantes do Livro Vermelho?
Alcácer do Sal. A verdemã, espécie constante no Livro Vermelho, é comercializada impunemente, sem qualquer controlo

As espécies exóticas como a carpa, achigã e a truta arco-íris, são as que mais se adaptam às águas paradas das albufeiras que construímos, podendo a truta arco-íris habitar também alguns sistemas de águas correntes, sendo certo que mais tarde ou mais cedo irá procurar águas calmas, se entretanto não for pescada. Não é curiosa esta realidade? Nós construímos as albufeiras e depois não queremos lá ter os peixes que mais se adaptam a elas, porque os que habitavam anteriormente esse espaço não se conseguem adaptar à mudança de habitat que lhes impusemos?
Para além disso, algumas espécies como a carpa e o achigã, pelo tempo que já estão entre nós, encontram-se já integrados nos nossos ecossistemas. Certamente com uma gestão adequada a cada género, não serão motivo de preocupações nem riscos ambientais. Por sua vez, as trutas arco-íris não são motivo para preocupações porque simplesmente não se reproduzem naturalmente, pelo que está de imediato controlada a sua existência no estado selvagem.
As carpas e os pimpões foram trazidos pelos Romanos quando se instalaram na Península, na mesma época em que Jesus Cristo vivia na Galileia. Se aos romanos desse período - que seguindo o mesmo ponto de vista, eram exóticos também - não se reconhecem qualidades de gestão piscícola, o mesmo não aconteceu com o achigã. Esta espécie foi importada para Portugal pelo Instituto Florestal, hoje Autoridade Florestal Nacional, não sem antes se ter feito uma avaliação exaustiva e possível à época, sobre a sua interacção com as espécies que possuíamos. O objectivo era regular as populações especialmente de carpas, que começaram a povoar as várias albufeiras que iam sendo edificadas em larga escala pelo Estado Novo, enquanto criava valor para a pesca desportiva. Ou seja, o achigã veio para realizar um trabalho! Foi depois aclimatado e só então utilizado para repovoar experimentalmente algumas albufeiras do sul do país, na década de 50 do século passado.
Como cidadão, parece-me uma enorme falta de respeito que alguém que nem sequer conhecemos, para além de ignorar as consequências das suas acções como é o caso dos ilustres promotores das Directivas Europeias, argumente que espécies que já existiam em Portugal quando eu nasci, sejam para aniquilar.
São grosseiramente ignorados também os proveitos económicos obtidos devido ao potencial destas espécies, quer em impostos para o Estado resultantes do comércio de material de pesca, combustíveis, alojamentos e refeições, bem como as receitas das Licenças de Pesca. Além disso, estes peixes são indiscutivelmente recursos alimentares particularmente acessíveis para as populações do interior, estando já enraizadas na cultura destas gentes, inúmeras variações gastronómicas que envolvem a utilização destes pescados.

E as autóctones?
Se por um lado se verifica uma preocupação deste organismo, sustentado por nós contribuintes, em erradicar as espécies que mais pescamos, não se enxerga qualquer simples esboço para preservar as nossas espécies autóctones.
Basta uma deslocação aos nossos cursos de água salmonídeos para constatar com tristeza a enorme quantidade de lixo cuja proveniência está identificada, preso nas árvores das margens que assim acabam decoradas com sacos de plástico de todos os géneros e cores.

Rio Zêzere, a 10 Km da nascente

As águas apresentam colorações diferentes consoante os dias. A espuma nos rios, passou a fazer parte dos quadros que a Natureza pinta para quem quer ver e só não vê quem vira a cara à realidade.
Os fundos das ribeiras passaram a estar totalmente preenchidos por um substrato castanho, que se eleva e turva a água quando pisado. Esta poeira líquida, proveniente das "modernas" e "eficientes" ETAR´s que construímos, só de há uns anos para cá passou a estar presente nas águas salmonídeas que frequento.
Por outro lado, a extracção de inertes não tem qualquer regulação eficiente e muito menos, fiscalização. É por demais conhecida a importância que os areais desempenham na reprodução das nossas espécies autóctones mais importantes que sobem os rios para desovar, como os barbos, bogas e trutas fário. O que dizer quando se assiste a invasões frequentes nos areais e com muito à-vontade desaparecem várias toneladas de areia, de forma descaradamente impune? Onde estão os elementos fiscalizadores dos nossos rios?
Outro aspecto importante e consecutivamente ignorado pelos organismos que deviam zelar pelas nossas espécies que sobem os cursos de água para desovar, é a questão das escadas para peixes das nossas albufeiras. Não, caro leitor as escadas para peixes, na generalidade das nossas albufeiras não funciona. A maioria está mal concebida, outras não são limpas periodicamente e quase todas estão muito degradadas, basta procurar estudos sobre este tema na Internet para confirmar a triste realidade.
Além de mais, a recente proliferação de mini-hídricas e açudes de praias fluviais, agudizou este problema de forma particularmente preocupante. Para cúmulo, boa parte das praias fluviais foi abandonada, quer por falta de qualidade da água, quer por falta de utilizadores e consequentemente deixaram de ser interessantes para uma exploração economicamente viável. Mas os açudes estão feitos e a barreira aos peixes migradores permanece…

Conclusão
Prepara-se a condenação à morte - é mesmo o termo, dos peixes que já vivem connosco há muito tempo. Mesmo há mais tempo, do que aqueles que agora determinam a sua condenação. De forma desprovida de qualquer sentimento que deveria ter, quem tem por missão “tomar conta” de espécies animais.
É certo que algumas espécies exóticas se tornaram pragas e não possuem o mais pequeno interesse, seja desportivo, gastronómico ou ambiental. Esses, de facto, e exceptuando o facto de estarmos a falar de seres vivos que não têm culpa dos antepassados terem sido trazidos para Portugal, não são uma mais-valia a qualquer nível. Muitas vezes torna-se pragas, como os alburnos, percas-sol ou os peixe-gato, pondo em causa outras espécies interessantes sob um qualquer ponto de vista.
Outros há que não são pragas, (digam-me onde há uma praga de achigãs por favor, porque irei lá já divertir-me…) e/ou têm interesses de qualquer género.
Esperemos que esta psicose patriótica não se estenda às batatas, ao milho e aos bifes de peru, porque também são todos exóticos. No supermercado, encontramos cada vez menos produtos nacionais e um simples saco de alhos chega-nos dum país do outro lado do mundo… porque já nem isso somos capazes de produzir.
Portugal tem reputação de bem receber os estrangeiros, quer venham para trabalhar ou para férias, porque ajudam a nossa economia. Será que não podemos fazer o mesmo com aquelas espécies piscícolas que nos são úteis?

Manifeste-se!
O site do ICNB tem disponível dois contactos de correio electrónico para que onde é possível o envio de comentários sobre este assunto. Aceda a www.icnb.pt, escolha a opção no separador à esquerda “Estudos e Projectos” depois “Espécies não Indígenas” e depois clique em “Processo em Revisão – Dec. Lei nº 565/99 – Base Técnica”. Para acesso directo, clique aqui. Quase ao fundo da página tem os dois endereços para que possa fazer chegar o seu comentário. O acesso é normalmente lento, mas não desista…

Texto publicado na revista "O Pescador" de Maio 2009

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Tiram-nos a água…

Clique na imagem para ampliar e ler a notícia do Jornal Expresso

O Jornal Expresso de 24 de Outubro publicou mais uma notícia sobre o problema da água no rio Tejo. A questão é recorrente, continua por resolver e as perspectivas nem são animadoras. O assunto prende-se pela água do nosso maior rio, que nos é tirada (porque é nossa) pelos nossos vizinhos, que controlam a torneira e nem passam justificações a ninguém e também pela péssima qualidade do líquido que nos despejam para cá.
Lamentavelmente o nosso país, em mais um acto de subserviência, cala-se e não reclama. O “nosso país” são os nossos responsáveis das instituições que deveriam controlar, verificar, e pedir responsabilidades a quem não cumpre o prometido e acordado por escrito, entre as partes. Alguém sabe porque é que a água do Tejo cheira mal, está verde todo o ano e desaparecem os peixes, dia após dia? Alguém pediu contas a alguém?



Que incompetentes temos nos organismos que tutelam a água, os caudais e a sua qualidade, que não fazem o seu trabalho? Como se permite que nos entreguem um esgoto, em lugar de um rio – o maior – que temos? Maior, por enquanto, porque pelos vistos em breve será apenas um fio de água castanho e moribundo.
Como pescador e conservacionista, repugna-me esta gente incompetente que não faz o seu trabalho e que continua todos os meses a receber um ordenado, pago também com os meus impostos. Por isso e como contribuinte, tenho o direito de não ficar calado!
Já em 2007, num dos primeiros post do blog, abordei este assunto, que se tornou mais preocupante desde então.