"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Em que é que ficamos?


Esta placa encontra-se em vários locais da albufeira da Marateca ou Sta. Águeda, como também é conhecida a massa de água que abastece Castelo Branco.
É também mais uma prova do amadorismo, da prepotência e no fundo da palermice que caracterizam o português típico, porventura imaginada por algum funcionário com categoria de capataz, que pensa que ele próprio, é dono da barragem.
Estamos em presença de uma sinalização que tem como fundo um barco à vela e em sobreposição, um sinal reconhecido como de interdição. Até aqui percebe-se que é interdita a navegação à vela nesta albufeira. Será aliás, a conclusão que qualquer estrangeiro que não entenda português e que procura a albufeira, tira de imediato.
Mas, eis que, mais abaixo encontramos uma frase que afirma categoricamente: “PROÍBIDO BARCOS COM MOTOR”. Ou seja, além dos barcos à vela, também são proibidos os barcos com motor.
Mas, no canto superior esquerdo encontramos ainda uma outra frase: “PERMITIDO MOTORES ELÉCTRICOS”. Perante esta enorme e controversa quantidade de informação, o incauto cidadão fica de certa forma atordoado e sem conseguir tirar uma conclusão decente.
Para facilitar, eu sugiro o seguinte e explico porquê:
Caro pescador eventualmente embarcado, ignore a placa e faça o que a sua consciência lhe ditar. Simplesmente porque a placa é COMPLETAMENTE ILEGAL, os símbolos não fazem parte de nenhuma listagem de símbolos reconhecidos na navegação, pelo que ninguém é obrigado a perceber tamanha palermice junta.
Para ser sincero, estou a pensar enviar a foto para o site “Portugal no seu melhor”…
Assim não vamos a lado nenhum…

domingo, 23 de novembro de 2008

A hibernação do motor do barco - Parte II

No seguimento do post anterior, iremos ainda prestar atenção à preparação dum barco para o período de descanso, bem como a outros componentes importantes do motor e da própria embarcação.

Antes de mais, é de referir que cada vez que se intervém num motor, a chave de ignição deve estar retirada, bem como o dispositivo de homem-ao-mar para que não se dê um arranque intempestivo.

Protecção interna dos cilindros
Existem líquidos no mercado (normalmente em embalagem spray), indicados para esta operação. Cada fabricante de motores apresenta o seu produto, o que não quer dizer que exista incompatibilidade entre marcas diferentes. As velas devem ser retiradas. Pelo orifício destas aplica-se o spray, seguindo as instruções do fabricante.


Depois e rodando manualmente o volante do motor, espalha-se o líquido pelo curso dos cilindros formando-se então uma película de protecção contra a corrosão, no interior destes.
Aproveite e verifique se a mistura de combustível é a correcta, verificando a cor das velas que deve ser castanha clara e se o isolador de porcelana não se encontra estalado ou partido. Os eléctrodos devem estar sem vestígios de desgaste. Aplique um pouco de óleo do motor na rosca da vela e aperte.

Lubrificação o veio do hélice
O veio do hélice deve ser lubrificado, após a retirada deste. Para tal, utilize um taco de madeira para imobilizar o hélice enquanto o desaperta.


Verifique se não existem restos de fio de pesca ou detritos no eixo e remova a massa de lubrificação antiga. Curiosamente, ao realizar esta tarefa no meu motor detectei restos de fio de pesca, que inevitavelmente iriam deteriorar o retentor do veio do hélice e permitir a saída do lubrificante da caixa do veio de transmissão. Esta avaria teria uma reparação dispendiosa e uns fins de semana sem pescar.


No veio, depois de limpar, deve-se aplicar junto ao retentor um lubrificante do género do HHS2000 - da Wurth, enquanto se roda à mão. Aplique agora massa consistente espessa e aperte a porca, utilizando o truque do taco de madeira, desta vez no lado oposto.



Bateria
A bateria é um elemento caro e que se não for cuidado deteriora-se em pouco tempo. E o Inverno é a época do ano em que mais baterias chegam ao final dos seus dias. As vulgares baterias de ácido e chumbo automotivas, devem ser guardadas com carga máxima. Antes desta carga, deve naturalmente verificar-se o nível de electrólito, se a bateria não for selada e corrigi-lo com água destilada até ao nível assinalado como máximo, se tal for necessário.
Qualquer bateria destas características deve ser submetida uma carga de manutenção de quinze a trinta minutos uma vez por mês, porque com o passar do tempo verifica-se uma descarga lenta nestes tipo de acumuladores o que dá origem ao processo de sulfatação das placas e consequentemente à sua destruição precoce.

Bom trabalho!

sábado, 15 de novembro de 2008

A hibernação do motor do barco - Parte I

A lavagem do motor antes da imobilização prolongada é imprescindível
O bom tempo decididamente já nos deixou e o Inverno está aí. Uma grande parte dos pescadores que possuem barcos, não os utiliza no Inverno, devido ao facto de ser menos agradável pescar nesta altura do ano e também porque as condições de mar muitas vezes não sugerem aventuras...

Qualquer que seja o motivo, os motores que passam longos períodos de imobilização (mais de dois meses) devem ser preparados para esta inactividade, com pequenas tarefas fáceis de realizar e que lhe aumentarão o período de vida e a fiabilidade.

Umas das acções recomendadas no início do período de imobilização é a lavagem completa do sistema de arrefecimento. Esta operação tem como objectivo fazer circular água doce por todo o sistema de refrigeração, para que este seja limpo pela água doce que aí circula. Nos modelos mais pequenos, abaixo dos 25 CV, pode fazer-se colocando o motor num bidão com água.

Nos modelos mais potentes a melhor solução é a utilização dos “auscultadores” como vulgarmente são designados. Este prático acessório permite a ligação a uma mangueira que por sua vez é ligada à torneira e assim fornece ao motor a água necessária para o sistema de arrefecimento, permitindo o seu funcionamento “ a seco”. Algumas marcas têm modelos que possuem uma entrada de água com um bujão que se desaperta e onde se liga directamente uma mangueira com um acessório de rega, dispensando os auscultadores.

Pormenor dos "auscultadores"

Deve-se em primeiro lugar abrir a torneira da água, fazendo depois o arranque do motor e confirmando que o esguicho de água de arrefecimento é contínuo. Desta forma certificamo-nos que o caudal de água é suficiente e não existe risco de sobreaquecimento do motor. Por outro lado confirmamos igualemnte que todo o sistema funciona bem e não existem problemas de entupimento no circuito, nem o impulsor da bomba de água está gasto ou danificado.

Depois de funcionar entre cinco a dez minutos, deve desligar-se a mangueira da gasolina do motor, levando a que este pare por falta de combustível. Isto evita que a gasolina fique retida nos carburadores, ou injectores nos modelos mais recentes e ao longo do tempo evapore, deixando resíduos acumulados no sistema de alimentação.

Nunca de deve desligar a água com o motor em funcionamento, mas só depois deste parar, mesmo que sejamos nós a desligar a ignição.

No próximo post serão abordados outros elementos importantes para a manutenção invernal do motor, bem como cuidar da(s) bateria(s) do barco neste periodo.

sábado, 8 de novembro de 2008

O achigã recorde do Zé Pedro...


Partilhar uma jornada de pesca com uma criança pode revelar-se uma surpresa. Em especial, porque os peixes não escolhem os anzóis...Esta história verídica passou-se em 2001, no fim de uma tarde de Julho.
- Há aqui alguém interessado em ir dar uma volta de barco?
Foi como se de repente, se ouvisse gritar que havia fogo cá em casa...
- Hehehe… - Como gosto de fazer isto... pensei para comigo.
A mãe foi preparar o lanche, porque o ar do campo abre sempre o apetite, vestir o fato de banho, calçar os ténis, procurar o livro que está a ler, etc.
O pescador mais jovem, foi preparar o colete de pesca, calçar as sandálias, procurar o boné, eventualmente debaixo da cama, junto de uma infinidade de coisas que só ele conhece a utilidade.
- Daqui a cinco minutos, na garagem! - Fui dizendo enquanto fechava a porta.
Engatei o barco no carro, enquanto chegavam os restantes passageiros e aí vamos nós.
Já no rio, como estavam bastantes pescadores de margem nas imediações, fomo-nos afastando com o motor eléctrico, que não faz ruído e aproveitando para começar a tentar enganar os achigãs mais distraídos, mesmo já ali.
Após alguns lançamentos, pesquei um, com cerca de quatrocentas gramas.
- Já cá tenho o primeiro... Disse em voz alta e tom jocoso, para espevitar o meu aprendiz.
Mas ele resmungou qualquer coisa relacionada com o fio e não ligou.
Depois de tirado do anzol, foi devolvido com cuidado à água. Mais uns lançamentos e mais um achigã, pouco maior que o primeiro.
- Dois, a zero…digo eu, em jeito de provocação.
Nada… Não responde…
Após alguns lançamentos, o jovem pescador capturou um, com cerca de meio quilo, enquanto eu lutava com outro, de cerca de um quilo. Algazarra a bordo. Dois peixes, ao mesmo tempo... Espectacular!!!
- Mãe, foto para a equipa, por favor… digo eu enquanto o Zé Pedro se colocava ao meu lado. Peixes na água, e toca a recomeçar.
- Pai, temos que ir àquelas pedras fazer uns lançamentos, diz ele.
- Claro, respondo sem hesitar.
Lancei e apercebo-me de um derivar da linha, quase imperceptível. Ferrei, mas nada.
Entretanto, o Zé Pedro lança para lá e ferra com violência. Em troca recebe um violento puxão que lhe deixa a cana apontada para a água e sem capacidade de reagir.
- Pai… paaaai... gagueja, enquanto o fio continua a sair do carreto…
- Vai ajudá-lo, depressa...diz a mãe, enquanto eu corro para a máquina fotográfica.
- Nem penses, retorqui, não vou perder a oportunidade de fazer umas fotos...
Vejo a linha a dirigir-se para a superfície, indicando que o peixe vai saltar fora de água. E aí está ele...em todo o seu esplendor... tem... mais de... dddois quilos... DOIS QUILOS... ??????
Só agora é que todos nos apercebemos do que é que o Zé Pedro tem na ponta da cana a lutar com barbatanas e dentes para se soltar... Um enorme achigã, o peixe mais desportivo, lutador e espectacular que existe.
Está instalado um motim a bordo: O miúdo grita porque acha que não está a ver bem. A mãe acha que o devo ajudar. E eu estou muito mais interessado em eternizar este momento único, não dando tréguas à máquina fotográfica.
O peixe, ora salta fora de água, ora afunda, deixando o iniciado pescador, sem pinga de sangue...
Finalmente, já cansado, aproxima-se para ser içado para o barco, pelas pequenas mãos do meu filho, que está nitidamente em estado de choque.
Já com o peixe dentro do barco, ninguém quer acreditar no que está a ver.
- Ganda Zé Pedro!!!... digo emocionado, - Vamos pesá-lo, rápido.
- Dois quilos e quinhentas gramas, meu !!! digo enquanto mostro a balança à mãe, incrédula !!
Uma foto do pescador com o peixe na balança e aí vai ele para a água, bem vivo e em condições de crescer mais uns quilos. Se não se deixar enganar por alguém que o ache mais interessante rodeado por batatas no forno. Nós, pelo contrário, consideramo-lo mais importante bem vivo e aos saltos na ponta das nossas linhas...
- Pai, agora já não me podes chamar pescador de meia-tigela...
- Tá bem, pescador de tigela inteira... Imagino os sonhos dele, nessa noite...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Mesa de Plumas


Já um pouco farto de ouvir as reclamações da desarrumação constante e dos restos de penas e linhas por todo o lado, também de deixar cair um acessório e nunca mais o encontrar, decidi finalmente fazer eu próprio, uma mesa de plumas.
Levou tempo, mas já está.
Andei meses a magicar, como seria o lay-out que cumprisse todos os pré-requisitos que pretendia.
- Ser espaçosa
- Ser fácil de limpar
- Ser facilmente transportável para outro lugar em caso de emergência (visitas, levar para o campo, etc..
- Poder albergar também a maioria dos materiais que utilizo frequentemente. Resolvi fazer uma espécie de espaço inferior para albergar três caixas plásticas.
- Ter capacidade para reter os anzóis e cabeças douradas, missangas e todo o género de pequenos acessórios que utilizamos e que desaparecem misteriosamente quando caem… Para isso apliquei um rebordo a toda a volta da mesa para evitar “saídas de campo”.
-Aguns imans e esponjas seguram as plumas já feitas e em fase de secagem.

Finalmente e depois de alguns ensaios, está pronta e já levou a camada final de verniz, aplicada à pistola por mim próprio.

Aqui fica o modelo.

sábado, 1 de novembro de 2008

Peixe Recorde!


Este verão, numa fugida de fim-de-semana até à albufeira do Cabril, tive a surpresa de bater o meu recorde pessoal do maior peixe pescado em todas as águas.
Mais uma vez, numa amostra destinada aos achigãs, ferro um peixe que me deixou a cana apontada para a água e o fio a sair furiosamente do carreto.
Mais uma briga de dá e recupera linha, até que o peixe já no final da luta decide dar a última corrida junto à margem, em águas particularmente baixas e com bastantes arbustos submersos.
- Vai-se prender nos paus e vai partir… disse já a antecipar o final da contenda.
-Pode ser que não, responde o meu filho.
- Pronto, já está! Digo logo de seguida.
De facto o peixe em fuga consegui que a linha passasse num arbusto e que continuasse a levar linha do carreto, mas com esta a entrar na água sempre no mesmo sítio.
- Vou afrouxar um pouco, pode ser que solte ou que o peixe volte para trás e a linha saia dos paus…acrescento, com pouca convicção.
Não resultou. Agora o peixe parecia já imóvel, porque a linha continuava estática, a entrar na água no mesmo local.
Nisto, o meu filho olha para o lado esquerdo e diz:
- Olha, o peixe está ali ao cima de água… De facto, embora a linha continuasse a entrar na água no mesmo local, o peixe estava exausto à tona de água, a cerca de quinze metros à nossa esquerda.
- Pronto, então segura aqui a cana, que eu vou tentar soltar a linha dos paus. Quando te fizer sinal, é porque está livre e recolhes rapidamente, para que o peixe não se solte por o fio estar frouxo.
Passo-lhe a cana, e salto do barco para as límpidas águas do Cabril. Segurando a linha para me guiar, facilmente chego ao pequeno pauzinho onde a linha passa. Percebo que a sua passagem fez um vinco na madeira amolecida, - por estar à tantos anos submersa e solto a linha que de imediato fica bamba.
- Recupera, rápido!
Ele assim faz, até a linha ficar esticada e o peixe começar a ser trazido lentamente até nós.
- Vá, acaba de a tirar porque o peixe é teu, diz ele.
- Deixa-te de coisas, este foi a meias!
Já no barco e com a cana na mão, ele armou rapidamente o camaroeiro que mergulha por baixo do peixe que é finalmente assim trazido a bordo, depois desta pequena peripécia…
Esta carpa acusou na nossa balança digital 8,700Kg, tornando-se assim o maior peixe de qualquer género que já pesquei, destronando o barbo de 7200Kg que também se interessou por um isco dos achigãs. E o fio Gamma 0,30 resistiu a todas estas torturas de forma heróica, sim senhor…
É o meu recorde, mas resta acrescentar, a meias com o meu filho…
Obviamente, depois de pesada, foi devolvida às águas da albufeira.