"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Achigã, o que é que este peixe nos faz?


Não são poucas as vezes que dou comigo a pensar qual é o motivo que optei por pescar este peixe tão estranho, com uma boca tão disforme, capaz de engolir uma presa quase do tamanho dele próprio, que normalmente não é fácil de enganar e que ainda por cima não existe em grande quantidade …
As respostas não me surgem com facilidade. Assim de repente, quase que me apetecia pescar outra espécie mais abundante, que me desse resultados mais concretos rápidamente e sobretudo, que me facilitasse um pouco a vida quando tento motivar alguém de novo ou mais novo, para este passatempo.
Em verdade se diga, trazer alguém para esta actividade, não se revela tarefa fácil, hoje em dia. Não é canja eu convencer o meu filho com dez anos, que se pode divertir a pescar achigãs…A ele, que nasceu no meio de amostras e palavrões como Zara Spook e Dying Flutter, constava das primeiras palavras que conseguiu balbuciar… No entanto, quando lhe pergunto se quer ir á pesca, nem pestaneja e fica com cara de quem acha que já lá devíamos estar… Dá-me ideia que por vezes tem mais vontade que eu próprio, embora acabe por gastar uma boa parte do tempo a passear as amostras junto ao barco.
É caso para perguntar: O que é que este estranho peixe nos faz? De que forma é que ele nos contamina as mentes para que nada nos faça desistir de o tentarmos convencer a atacar as nossas amostras?
Não há dúvida de que existe algo de mágico, de droga e dependência nesta pesca. As amostras, cada uma com a sua história, de pescarias passadas. As formas esquisitas dos iscos de plástico mole, que permitem um número quase infinito de montagens e puxam pela nossa imaginação. Os locais onde quase apostamos que, “ali está um grande” Os saltos que um bom achigã executa para sacudir a amostra que o traiu… Os nossos barcos, personalizados ao máximo, que nos gastam muitas horas de bricolage e “nunca está tudo como queremos” As histórias de quem foi a determinada barragem e “era só meter e tirar”... A amizade que se estabelece entre quem partilha a mesma dependência…O contacto que relaciona o bicho Homem e a Natureza, cada vez mais longe do nosso dia a dia … o ver nascer o Sol no meio da água e sentirmo-nos insignificantes perante o espectáculo…
Estas pequenas coisas serão partes importantes dum todo que provavelmente ninguém consegue descrever muito bem, com precisão e sem gaguejar. Provavelmente nenhum pescador de achigãs conseguirá explicar porque optou por pescar esta espécie. Não estou obviamente a considerar quem pesca com objectivos puramente gastronómicos. Estes apanhadores de peixe, facilmente responderão ao porquê desta questão.
É de facto uma questão que envolve algum misticismo, a nossa pesca. É sem dúvida uma grande paixão, pescar este peixe louco, que no fundo traduz um pouco da loucura desta pesca e destes pescadores.
Poucos serão os pescadores de achigãs que terão vindo de outros tipos de pesca. E os que vieram e ficaram, ainda não tinham tido oportunidade de encontrar o que procuravam. Esses já eram achiganistas sem o saberem.
É que um pescador deste peixe, já nasce com esse destino…
Publicado na revista "Achigã" da APPA, em 2000

4 comentários:

Jorge Bragança disse...

Quando andamos a inventar maneiras de o ferrar, é porque nós próprios já estamos ferrados. Este peixe tem o condão de nos ferrar, de nos viciar e não há desintoxicação possível nem metadona que nos valha...

Jorge Bragança disse...

Quando andamos a inventar maneiras de o ferrar, é porque nós próprios já estamos ferrados. Este peixe tem o condão de nos ferrar, de nos viciar e não há desintoxicação possível nem metadona que nos valha...

ZeNeR disse...

Quer dizer!?!? Anda um gajo a enganar peixes de 2kg para tu agora meteres aqui este peixes da treta! Pelo menos metias aquele que apanhei na semana seguinte! Daquela arvore que não tinha peixe!

Abraço!

José Gomes Torres disse...

Jorge, não há metadona como dizes, a única forma de tratamento só se consegue com mais pesca, hehehe...
ZeNeR, esse da semana seguinte era tão pequenino que não teve direito a fotografia. Ou pensas que só apanhas grandes???