"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Anzóis “sem morte” ou pesca sem morte?



Recentemente num espaço de discussão onde participava, gerou-se alguma polémica, entre outras coisas, sobre os “anzóis sem morte” e “anzóis com morte”, leia-se “anzóis sem farpa” e “anzóis com farpa”, respectivamente. Ou seja, a palavra “farpa” pode ser substituída por “morte”. Ou seja, há quem defenda que apenas pela farpa ou barbela, assume-se a vida ou morte das capturas.
Dito da primeira forma, - anzóis sem morte - ficamos com a ideia que os peixes capturados não vão morrer e vão em paz à sua vida depois de libertados, se for essa a vontade do captor.
Por oposição, fica-se com a ideia também que os peixes capturados com “anzóis com morte” estarão condenados a pagar com a vida a ousadia de atacar os nossos iscos.
Como facilmente se percebe, um anzol sem morte pode espetar-se, da mesma forma que um normal, em zonas vitais para o peixe, como sejam a articulação do maxilar, nos canais olfactivos ou orgãos da visão, provocando-lhes lesões graves para o resto da vida, mesmo depois de libertado com todos requisitos do catch&release.
Somado a estas possibilidades temos ainda para complicar mais, as fisionomias das diferentes espécies. A boca de uma carpa é completamente diferente da boca de uma truta, porque é carnuda e calejada de revolver os fundos em busca de comida. Também uma truta de 300 gramas é diferente de uma truta de um quilo, pelo que as consequências do mesmo anzol espetado, são diferentes em cada uma das situações.
Conclusão: Parece-me demasiado pretensioso, mal dito até, chamar aos anzóis sem farpa “anzóis sem morte”, porque podem matar tal como os outros, nem que seja por serem utilizados por um pescador que sacrifica as suas capturas. Por oposição novamente, acho mal chamado aos anzol com barbela, "anzol com morte", porque pode ser utilizado por um pescador que preserva as espécies, que as manuseia com o máximo de cuidado e liberta.
É obvio que, quem pratica a PESCA SEM MORTE - esta sim, é a designação correcta -deverá considerar a possibilidade de utilizar todas as formas ao seu alcance, para que os danos nos exemplares que captura, tenham o menor impacto possível na sua sobrevivência.
Mas isso, na minha opinião, definitivamente não passa pela utilização exclusiva de anzóis sem farpa, embora possa ser uma contribuição.

3 comentários:

Anónimo disse...

José,
Você foi bem feliz em seu texto. Parabéns
De nada adianta a utilização de anzóis sem farpa, mesmo tendo a sorte de espetá-lo em local adequado, se não forem tomados os outros vários cuidados necessários à boa soltura do peixe.
Um abraço

José Gomes Torres disse...

Junior, obrigado pelas suas palavras. Esta questão não é fácil de abordar sem ferir susceptilidades, quer dum lado quer do outro. A minha opinião é tão somente esta!
Um abraço!

S. Ferreira disse...

O termo anzóis sem morte é um bocado infeliz e deriva do espanhol.
Também não me parece correcto.

A escolha da terminologia, por quem a fez, é no mínimo infeliz. Anzóis sem farpa é para mim o indicado.

Um abraço,