"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O sável

Sável da bacia hidrográfica do Guadiana

O sável (Alosa alosa), é um peixe anádromo e tem actualmente estatuto de espécie “Em Perigo” segundo registo do ICNB no Livro Vermelho dos Vertebrados, publicado em 2006. Vive no mar até atingir a fase adulta e em locais de grande profundidade, entrando nos rios de maiores dimensões e de corrente moderada para se reproduzir. Existem dados de ocorrência de populações residentes da espécie em albufeiras portuguesas, como é o caso de Castelo do Bode, Alqueva e Aguieira, onde aparentemente conseguiu uma adaptação exclusiva à água doce, conseguindo sobreviver e reproduzir-se. Estas populações aprisionadas não atingem os tamanhos normais para a espécie e são consideradas imaturas e anãs.
Consegue a maturidade sexual entre os 4 e os 6 anos de idade, altura em que inicia a migração para o rio em que nasceu. Os indivíduos raramente efectuam mais que uma migração reprodutora, morrendo após a desova. A migração decorre entre Março e Julho e a reprodução entre Maio e Julho.
A desova ocorre no leito do rio, a profundidades inferiores a 1,5 m, em fundo arenoso ou de cascalho, demorando os ovos 3 a 8 dias a eclodir, em função da temperatura da água. Depois da eclosão, as larvas e juvenis de sável vivem no rio durante 4 a 5 meses. Passam depois 4 a 6 meses nos estuários, dirigindo-se para o mar no final da Primavera seguinte.
A construção de barragens é a ameaça mais séria para os peixes migradores, principalmente quando se verifica nos troços principais dos cursos de água, utilizados para a sua reprodução. Mesmo quando existem sistemas de passagem para peixes, os indivíduos têm dificuldade em transpor os obstáculos, impedindo ou comprometendo a reprodução. Verifica-se, assim, uma acumulação de adultos reprodutores a jusante das barragens, que são muitas vezes alvo de pesca ilegal. A montante, ficam retidos os juvenis na sua migração para o mar.
Outros factores de ameaça para a espécie são a alteração do regime de caudais a jusante, a conversão de um sistema lótico em lêntico, a retenção de sedimentos a montante, a extracção de materiais inertes, a sobre-exploração dos recursos hídricos, a poluição resultante de descargas de efluentes não tratados de origem industrial ou urbana, a par da intensificação da utilização de pesticidas e fertilizantes na agricultura.
Dado o valor comercial e gastronómico desta espécie, a sobrepesca e a utilização de meios de captura ilegais são outros factores também responsáveis pela diminuição de efectivos.
Verifica-se ainda a proliferação de festivais gastronómicos nas povoações ribeirinhas, em que este peixe e as suas ovas são protagonistas, perante uma inconcebível letargia e sem um único gesto das entidades responsáveis pela gestão do nosso património natural autóctone.
Curiosamente, é no período reprodutivo desta espécie que é permitida a sua pesca - de 1 de Fevereiro a 14 de Junho, estando em defeso o resto do ano!
É caso para dizer:
- E esta, heim? Só em Portugal…

Fonte: ICNB, Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

1 comentário:

Anónimo disse...

Trabalho interessante sobre peixes migradores no Guadiana
www.edia.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=2910050&att_display=n&att_download=y

Que eu saiba, a EDIA retirou o link directo para o documento.

Osvaldo Lucas