"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

As marés e a pesca


Não há pescador de mar que se preze, que não traga sempre debaixo de olho um pequeno livrinho chamado “Tabela das Marés”. Nem que seja só para saber se vai estar a “encher” ou a “vazar” quando chegar ao pesqueiro, ou como vai ser durante a jornada de pesca...
As marés são, como é do conhecimento geral, resultado da influência gravitacional da Lua e do Sol em menor escala, no nosso planeta. Estes astros, proporcionalmente ao seu tamanho e distância a que se encontram de nós, exercem uma força de atracção sobre o lado do nosso planeta que para eles está virado. Também no extremo oposto do planeta se verifica o mesmo fenómeno, ou seja, sempre que por cá temos uma maré alta (preia-mar), no lado oposto do nosso planeta constata-se uma maré alta, também. Nas zonas intermédias verificam-se marés baixas (baixa mar). Devido à fluidez da água, formam-se como que dois “montes de água salgada” em dois pontos opostos da Terra, estando sempre um destes “montes” virado sensivelmente para a Lua. Sensivelmente, porque o Sol embora maior, está muito mais longe, sendo por isso a sua influência, menos de metade que a influencia da Lua. Vale a pena sublinhar que um dos “montes de água” está sempre apontado para a Lua e que a Terra no seu movimento de rotação é que se desloca.
A periocidade deste ciclo é de vinte e quatro horas e cinquenta minutos, o mesmo tempo da duração do dia lunar. Assim, durante este período, existem duas marés cheias e duas marés vazias. Na Lua Nova e Lua Cheia, as forças de atracção do Sol e da Lua somam-se, dando origem às marés mais altas - as Marés Vivas e mais baixas do ciclo - as Marés Mortas.

Influência na pesca
As meias-marés, são aquelas que não sobem muito, mas também não descem muito. Correspondem aos quartos da Lua, sejam crescente ou minguante. Não se formam grandes correntes de água, mais detectáveis para quem pesca nos molhes de entradas das rias ou estuários. Por outro lado, não existe grande movimentação de peixes, que acabam por se manter mais localizados e durante mais tempo. Indicia também menos facilidade de obtenção de alimento uma vez que este não é trazido pelas correntes marítimas e não existe muita erosão nos fundos marinhos que liberte esse alimento. É o período ideal para pescar à bóia e com material mais leve, quer em termos de diâmetros das linhas, quer de peso dos chumbos.
Nas marés vivas existe maior movimentação de tudo o que está na água, quer de peixes, quer de alimento. Neste caso, em situações de marés cheias, detectam-se muitas vezes algumas espécies de peixes que se encontram geralmente em águas mais profundas, e que foram arrastados pelas correntes ou que se deslocam para este novo habitat temporário. A força das correntes revolve com facilidade o leito do mar, pondo a descoberto e até libertando muito alimento que de outra forma estaria inacessível. Os peixes mais pequenos aproveitam este período de abundância e alimentam-se com frenesim. Por sua vez, os predadores aproveitam também a movimentação dos peixes-alimento para fazer o mesmo, o que desencadeia uma intensa actividade a todos os níveis da cadeia alimentar. Para além de soltar alimento, as marés vivas libertam também algas que muitas vezes nos dificultam a pesca tornando-a até impossível em determinados locais. Em termos de materiais pesca permitem-se linhas fortes (normalmente a água está também mais escura) e chumbadas mais pesadas, que não sejam arrastadas pelas correntes.
Em jeito de conclusão, é senso comum dos pescadores de mar que as últimas horas da enchente e as primeiras da vazante, qualquer que seja o tipo de maré, são as que proporcionam as melhores condições. A corrente da enchente está já a decrescer, atinge-se a maré cheia (muita água, muito peixe?) e inicia-se lentamente acorrente de vazante.
(Texto da minha autoria, publicado no Correio da Manhã de 1 de Setembro de 2002)

3 comentários:

junior disse...

Gomes querido amigo,
A pescaria no mar que mais pede a tábua das marés é a nossa pescaria de Robalos nos Mangues e Baias, uma pescaria muito gostosa e técnica.
A pescaria em costeiras, caminhando pelas pedras é bastante perigosa, mas as vezes chegávamos a passar 4 dias acampados em pequenas ilhas desertas fazendo pescarias assim. Coisa de jovens doidos. rss
Seu artigo ficou muito bom, parabéns.

Andrew Toasstex disse...

Realmente, muito esclarecedor este post, parabéns.
Estava rodando pela web, mas ainda não havia encontrado uma esplicação clara da influência das marés com a pescaria - pode parecer óbvio para quem pesca, para para quem estava buscando apenas ter um conhecimento técnico fica mais dificl.


Abrass,
Misael M.

Unknown disse...

Gostei obrigado