"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O crocodilo do Zezêre



Estamos em plena silly season. Para quem não conhece o significado da expressão, pode dar uma olhada na net e percebe que não pode ser outra coisa.

O crocodilo de Castelo do Bode é o caso mais mediático, parolo e até abrangente, porque envolve já meio mundo.
Além de ser uma "estória" com mais de uma década, porque já quando eu fazia competição aos achigãs – e isso já foi há muito tempo, se falava nisso em cada prova realizada nesta barragem… O certo é que nunca ninguém viu o que quer que fosse, falava-se apenas, puro boato.
Desta vez o assunto tomou proporções maiores.

A Ti Isabel Bastinho viu mesmo o réptil já em Abril, junto a Cernache do Bonjardim e teria cerca de dois metros. Apesar da idade e dos problemas de visão que certamente terá, a senhora foi levada a sério.

Em Julho, um canoísta confirmou o que a senhora viu, a cerca de 20 km do local e teria cerca de um metro e meio, segundo afirmou. Ou seja, ficou mais pequeno entretanto, certamente resultado do esforço da deslocação de 20 quilómetros.

Na semana passada Américo Costa, presidente do grupo ambientalista AquaTomar, afirma que viu na Foz de Alge, um siluro.

Nessa altura, pensou logo ter desfeito o mistério do crocodilo. "Pelo tamanho, por estar em águas menos profundas para apanhar lagostins, pela forma como serpenteia ao nadar e quase não ter escamas, pode confundir-se com o réptil".
Pronto, está desvendado o mistério.

Ou então, não...

Importa dizer que é pouco provável que seja um siluro porque não há até ao momento, noticia de qualquer captura dum único animal desta espécie, nesta albufeira e neste curso de água.
Além disso, se por acaso for UM siluro, o animal terá percorrido cerca de 30 quilómetros desde o local onde foi avistado pela Ti Isabel, até à Foz de Alge, onde o viu o Sr. Américo.

Não é de todo impossível, que fique bem claro.

Mas é muito difícil...

Quem conhece o comportamento desta espécie sabe que preferem caçar quase sempre por emboscada, são territoriais e deslocam-se muito pouco, tendo locais favoritos para repousar durante o dia e comer quase sempre durante a noite, outro factor que não contribui em nada para a credibilidade desta hipótese e os restantes avistamentos à luz do dia.

Mas divulgou-se o nome do grupo ambientalista, que ninguém conhecia.
Voltando ao crocodilo, ainda assim há quem mantenha o bom senso e pense antes de falar de crocodilos no Zezêre, como faz o biólogo Luís Santos, do Instituto Politécnico de Tomar, citado pela Rádio Condestável, “a situação é muito pouco provável devido às condições climáticas e à nossa situação geográfica e possivelmente será um mito popular, devido a notícias que surgiram há cerca de 10 anos”. Por outro lado, “um réptil necessita de passar muito tempo nas margens a recolher luz solar para que o seu metabolismo funcione, logo é mais fácil avistar um crocodilo nas margens do que a nadar”.
E acrescento eu, até em Africa é assim - vemos muitas vezes na televisão, imagine-se nas frias águas de Castelo do Bode.


Fontes: Jornais "A Barca" e "Correio da Manhã"



2 comentários:

Americo Costa,Aqua Tomar disse...

O ambientalista k vossa exelencia refere Americo Costa,e pescador de competiçao ha mais de 20 e chegou a liderar o campeonato da 1 divisao (clubes)de pesca desportiva,varios campeonatos regionais ,diversos 1 lugares de Masters(isto nos ultimos 7 anos)...etc...certamente nao havera so um siluro como e obvio,alias depois de sair a entrevista da sic e tvi,ouve telefonemas a relataR A CAPTURA DE "pequenos"SILUROS ,a rede,nos ultimos anos!...se pensar um pouco,faça a distinçao entre as especies existentes e k existiram em abundancia nas duas albufeiras..e tire a sua conclusao!..para um pescador de competiçao ,mesmo do Achiga,tem obrigaçao de saber algo mais k um simples "mortal"(praticante).cumprimentos e boas pescarias..Americo Costa ,Aqua Tomar
.....

José Gomes Torres disse...

Caro Sr. Américo Costa,

Antes de mais, obrigado pela sua contribuição. Em primeiro lugar queria recordar-lhe que o título do post é “O crocodilo do Zêzere” e não “O siluro do Zêzere”. Ou seja, a questão verdadeiramente importante e que está em discussão, prende-se com a existência de um crocodilo e não um siluro, nesta albufeira.

A referência à sua pessoa, é feita sem qualquer crítica ou ofensa, exactamente como está noticiado na comunicação social e por isso não percebo a sua indignação e a necessidade de referir as suas vitórias para credibilizar a sua afirmação. Podia até nem ser pescador, mas ter formação na área, ou ser apenas um grande aficionado pela fauna piscícola por mero gosto pessoal, para ter uma opinião completamente válida.
Ou até ser pescador mas não entender nada de peixes...

O resto é opinião exclusivamente minha, porque acho que tenho direito a ter a minha opinião e porque este espaço é gerido por mim.

Como pode verificar, fundamentei a minha opinião nas características e comportamento desta espécie, porque tento conhecer os comportamentos dos peixes que pesco, por gosto pessoal e claramente tento conhecer sempre mais do que o pescador comum. Aliás, quando pesquei os primeiros exemplares em Espanha há mais de uma década(http://gomestorres.blogspot.com/2007/11/siluro-o-monstro.html) fiquei de imediato com a preocupação do que seria das nossas espécies (em especial as autóctones) quando os siluros chegassem às nossas águas, o que inevitavelmente acabaria por acontecer mais tarde ou mais cedo, como aliás se verifica actualmente.

Gostaria ainda de lhe referir que mesmo assim, tive a preocupação de escrever que “não é de todo impossível, que fique bem claro” como pode reler no post.

Como deve saber, muitas vezes os siluros são confundidos com peixes-gato, ou seja as pessoas pescam peixes-gato e por sugestão acham que são pequenos siluros, como aliás refere nos telefonemas que diz ter recebido – “pequenos siluros”. Sabemos que estes últimos encontram-se muito mais disseminados pelas nossas massas de água do que os siluros, que até à data apenas são pescados com alguma consistência no troço do Tejo Internacional e afluentes, - mas já foi pescado UM na zona da Chamusca com 14 quilos...

Assim sendo e pelo que deduzo, há dez anos atrás quando surgiu a primeira versão d“O crocodilo do Zêzere”, não seria então um siluro, porque ainda estavam muito longe das nossas massas de água, certo?… O que seria então?

Acrescento que ainda assim, também neste caso que “não seria de todo impossível, que fique bem claro!”…

Lamento não ter autorização do autor para publicar algumas fotos de um tronco de sobreiro que passou pelo rio Ponsul abaixo, há uns dias atrás, e que alguém por brincadeira fotografou e cuja semelhança com um crocodilo parece mais do que um mero acaso. Em jeito de brincadeira, alguém disse que também nós tínhamos o nosso próprio crocodilo…

Eu sou ao contrário da maioria dos pescadores: Só acredito depois de ter provas documentadas.

Com os melhores cumprimentos,
Gomes Torres