
Embora conscientes que nada estava a nosso favor, decidimos ir pela primeira vez, pescar trutas ao Zêzere, lá para os lados do Sameiro. O dia estava luminoso e quente, confirmando a chegada oficial da Primavera uns dias antes, mas pouco favorável para pescar “pintonas”.
Saímos já tarde e fomos devagar, porque só assim se pode desfrutar de tudo, sem stress e sem a vontade de estar já junto à água para pescar logo às 5 da madrugada...
Para além disso, tínhamos convencido a mãe, ainda em período de convalescença após a cirurgia, a ir connosco, argumentando que era mais uma forma de preparar o seu regresso ao trabalho...
Não fazíamos ideia onde íamos pescar, porque desconhecíamos por completo a zona. Após uma volta de reconhecimento, entramos num dos acessos à água.
Vadeadoras vestidas, cana preparada e ainda eu não tinha fechado o carro já o ZP estava a fazer os primeiros lançamentos no meio do rio.
- Perdi mesmo agora uma pequena que se soltou, diz ele nervoso…
- O quê, já? É mau sinal…
Entramos um troço bastante largo, baixo e composto por calhaus grandes, eu do lado direito e ele do lado esquerdo do rio. Aqui podemos pescar à pluma sem grandes preocupações porque as arvores estão bem afastadas das margens, ao contrário das ribeiras onde pescamos mais vezes, que são completamente fechadas.
Mas nada de novo, ao fim de uns oitocentos metros de pesca. Entretanto, são horas de uma pausa para comer a sandes que vinha na mochila que a mãe carregava… Como sempre, o ZP nem come descansado e desaparece logo para a água.
Mas logo depois surge a dizer que perdera uma truta de bom tamanho. A mãos tremem-lhe e amaldiçoa o 0.14 que não resistiu ao arranque do peixe.
-Pai, era uma truta com uns trinta e cinco centímetros, tinha-a visto a comer á superfície e lancei. Atacou logo…
Brinquei com ele, para descontrair e disse-lhe que havia mais na água…
Eu recomeço numa pequena queda de água, desta vez com uma imitação de larva de tricóptero, bichos particularmente abundantes nestas águas. Ao acompanhar a linha na corrente, sinto um leve puxão e ferrei.
-Tenho umaaaa…. avisando a minha equipa. O peixe luta contra a corrente, volta ao remanso onde estava, volta à corrente e rende-se, após mais algumas voltas. Depois deixa-se apanhar pela minha mão que o aguarda já molhada, para que o contacto não lhe retire o muco protector, permitindo uma libertação com o máximo de probabilidades de sobrevivência…
- Epá, bonito peixe! - diz o ZP. E é de facto. Pena que ninguém os proteja e lhes suje a casa com tudo o que é mau para eles.
Duas fotos, anzol retirado com cuidado e aí vai ela outra vez para a água, até que se deixe enganar outra vez, o que espero piamente mais nunca aconteça… Assim fica no rio mais um exemplar reprodutor para que tente manter a sua espécie, apesar dos maus tratos que o Homem inflige diariamente ao seu habitat.
Minutos mais tarde o ZP captura uma pequenina com uma mosca seca, em imitação de tricóptero na fase alada, sendo este o último peixe que capturamos nesse dia, apesar de termos visitados vários locais durante a jornada.

Fica-nos também neste belo rio, a sensação do desperdício de recursos naturais a que está votado o nosso país. Há manifestamente muita falta de trutas nos nossos rios salmonídeos. Infelizmente e mais uma vez, o Estado a quem pagamos as nossas licenças de pesca, está-se nas tintas para as suas responsabilidades, deixando um património natural valioso e único, desaparecer de ano para ano.
E não há AFN, nem ICNB, nem SEPNA, nem treta de organismo nenhum que ponha termo a este delapidar duma espécie autóctone. Se os senhores do ICNB se preocupassem minimamente com as nossas espécies autóctones, em vez de se preocuparem em erradicar as exóticas interessantes - como o achigã, faria um trabalho valioso e estaríamos no caminho certo.
Curiosamente, nunca vi na minha vida um rio tão próximo da nascente, com tamanha quantidade de plásticos nas suas margens.
IMPRESSIONANTE, é a única palavra que me vem à cabeça… Não há um palmo de margem, que não tenha um pedaço de plástico, nos vários locais onde pescamos nesse dia. Alguns exemplos para ilustrar...


Onde andam os responsáveis por esta TAMANHA PORCARIA? Onde estão as entidades fiscalizadoras do ambiente?
Como é possível chegar-se a este ponto, no rio que alguns quilómetros a jusante abastece Lisboa ou seja, três milhões de pessoas?
Decididamente e feita a avaliação final, nada nos motiva a regressar…