Estamos em plena silly season. Para quem não conhece o significado da expressão, pode dar uma olhada na net e percebe que não pode ser outra coisa.
O crocodilo de Castelo do Bode é o caso mais mediático, parolo e até abrangente, porque envolve já meio mundo.
Além de ser uma "estória" com mais de uma década, porque já quando eu fazia competição aos achigãs – e isso já foi há muito tempo, se falava nisso em cada prova realizada nesta barragem… O certo é que nunca ninguém viu o que quer que fosse, falava-se apenas, puro boato.
Desta vez o assunto tomou proporções maiores.
A Ti Isabel Bastinho viu mesmo o réptil já em Abril, junto a Cernache do Bonjardim e teria cerca de dois metros. Apesar da idade e dos problemas de visão que certamente terá, a senhora foi levada a sério.
Em Julho, um canoísta confirmou o que a senhora viu, a cerca de 20 km do local e teria cerca de um metro e meio, segundo afirmou. Ou seja, ficou mais pequeno entretanto, certamente resultado do esforço da deslocação de 20 quilómetros.
Na semana passada Américo Costa, presidente do grupo ambientalista AquaTomar, afirma que viu na Foz de Alge, um siluro.
Nessa altura, pensou logo ter desfeito o mistério do crocodilo. "Pelo tamanho, por estar em águas menos profundas para apanhar lagostins, pela forma como serpenteia ao nadar e quase não ter escamas, pode confundir-se com o réptil".
Pronto, está desvendado o mistério.
Ou então, não...
Importa dizer que é pouco provável que seja um siluro porque não há até ao momento, noticia de qualquer captura dum único animal desta espécie, nesta albufeira e neste curso de água.
Além disso, se por acaso for UM siluro, o animal terá percorrido cerca de 30 quilómetros desde o local onde foi avistado pela Ti Isabel, até à Foz de Alge, onde o viu o Sr. Américo.
Não é de todo impossível, que fique bem claro.
Mas é muito difícil...
Quem conhece o comportamento desta espécie sabe que preferem caçar quase sempre por emboscada, são territoriais e deslocam-se muito pouco, tendo locais favoritos para repousar durante o dia e comer quase sempre durante a noite, outro factor que não contribui em nada para a credibilidade desta hipótese e os restantes avistamentos à luz do dia.
Mas divulgou-se o nome do grupo ambientalista, que ninguém conhecia.
Voltando ao crocodilo, ainda assim há quem mantenha o bom senso e pense antes de falar de crocodilos no Zezêre, como faz o biólogo Luís Santos, do Instituto Politécnico de Tomar, citado pela Rádio Condestável, “a situação é muito pouco provável devido às condições climáticas e à nossa situação geográfica e possivelmente será um mito popular, devido a notícias que surgiram há cerca de 10 anos”. Por outro lado, “um réptil necessita de passar muito tempo nas margens a recolher luz solar para que o seu metabolismo funcione, logo é mais fácil avistar um crocodilo nas margens do que a nadar”.
E acrescento eu, até em Africa é assim - vemos muitas vezes na televisão, imagine-se nas frias águas de Castelo do Bode.