Caro Sr. Jose Gomes Torres,
Tomamos conhecimento da sua indignação referente a uma águia de asa redonda recolhida por si no dia 7 Setembro de 07 e que fazia alusão à sua entrada no CERAS ( Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo) centro esse gerido pela Quercus.
Fomos verificar nos arquivos a situação, a qual muito estranhamos, pois a prática comum no CERAS comunicar com as entidades ou pessoas que entram animais ao CERAS a informar do estado da ave e caso ocorra o momento da sua devolução ao meio natural.
Neste caso em particular a ave deu entrada no CERAS no dia 7 de Setembro de 2007 através do SEPNA, foi estabilizado e entregue ao ICNB (PNTI) no dia 12 Setembro. Pois neste período o CERAS estava com a actividade suspensa, devido ao cancelamento do apoio anual que o ICNB dava ao CERAS, tendo sido retomada a actividade apenas alguns meses depois, após ter sido obtido o apoio do CONTINENTE.
Sugerimos que entre em contacto com o PNTI no sentido de averiguar o desfecho deste caso.
Com os melhores cumprimentos,
Pela Quercus
Samuel Infante
Quercus A.N.C.N.- Núcleo Regional de Castelo Branco
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19 de Abril de 2010 11:15
Respondi no mesmo dia o seguinte:
José Gomes Torres disse...
Caro Sr. Samuel,
Suponho que teve conhecimento de um pequeno texto que saiu no Jornal Reconquista na ocasião e sobre este tema. O objectivo desse texto foi só e apenas chamar a atenção dos leitores em primeiro lugar para a necessidade de preservação das rapinas e por outro servir de exemplo de como proceder quando encontram uma ave ferida.
Foi também através do mesmo texto que tive conhecimento de que a ave tinha sido entregue ao CERAS, era uma águia de asa redonda, e tinha uma entorse numa pata. De outra forma, nunca saberia mais nada sobre ela desde a hora em que a deixei na GNR… O jornal, tentou saber mais, para produzir a noticia. Eu resolvi apenas ficar á espera daquilo que me parecia legítimo, pelo facto de a ter entregue….
Não é o primeiro animal que encontro ferido ou fragilizado. Há uns anos encontrei um corvo, por indicação de umas crianças que brincavam na rua e entreguei ao Parque Natural da Costa Vicentina, depois de gastar muitos telefonemas para a GNR (não existia o SEPNA à altura), SPEA, etc, etc… Ao fim de uns bons 10 dias, lá foi um guarda do PNCV recolher o bicho e nem uma caixa de cartão levou…
Infelizmente, raramente o sistema funciona ao contrário do que afirma. O facto de me dizer que a ave foi entregue ao PNTI, e o CERAS não me ter informado disso, dá-me razão ao afirmar que o sistema não funciona ou pelo menos, às vezes funciona mal.
O facto de ter perdido o rasto desta águia de asa redonda, e uma vez que a prática comum no CERAS é comunicar com as entidades ou pessoas que entregam animais e informar do estado da ave e caso ocorra o momento da sua devolução ao meio natural - como refere no seu comentário –, é uma realidade incontornável. No mínimo poderiam ter-me enviado uma mensagem, pelo menos, (deixei o meu contacto, que deve constar do processo que refere) informando da sua transferência para o PNTI. Teria então sido feito o que deve ser feito e eu não tinha perdido o rasto do animal e saberia – como soube agora – que teria sido entregue ao PNTI.
Receio agora que, ao reencaminhar o seu mail para o PNTI, indagando o destino da ave, não obtenha resposta, como aliás já estou habituado.
Mas já que o tema foi abordado e considerando a sua informação, fá-lo-ei e irei aguardar pelos resultados, que certamente irei publicar no blog.
Mais curioso e só para reforçar que há várias coisas não batem certo, a águia foi encontrada e entregue em Maio/Junho de 2007, faltando agora saber onde esteve até ao dia 7 de Setembro que refere como ter sido recebida no CERAS. Basta-me ver o registo do dia em que as fotos foram tiradas para me certificar da data exacta. Onde esteve no intervalo de tempo entre Maio/Junho e 7 de Setembro?
Com os melhores cumprimentos,
Gomes Torres
Seguindo o conselho do sr. Samuel, enviei no dia 21 de Abril de 2010 um mail ao PNTI com o seguinte conteúdo:
Exmos Srs.
Por sugestão da Quercus de Castelo Branco, conforme mail anexo datado de 19 do corrente, gostaria saber qual o destino da águia de asa redonda recolhida por mim e pelo meu filho em 2007 e entregue na ocasião no SEPNA de Castelo Branco.
Referi nesse dia que gostaria de ser informado do destino da ave, tendo deixado os meus contactos (obrigatórios para a entrega) e se esta viesse a ser devolvida à Natureza, gostaria que fosse libertada pelo meu filho.Recordo que esta recolha foi na altura alvo de uma reportagem no Jornal Reconquista, com o intuito de sensibilizar as populações para a protecção das espécies, nomeadamente das rapinas.
Uma vez que o assunto foi retomado - e com legitimidade, pelo Sr. Samuel, agradeço as informações solicitadas.
Com os melhores cumprimentos,
Gomes Torres
No dia 3 de Maio recebo um mail do CERVAS de Gouveia, com o seguinte assunto:
Caro Sr. José Gomes Torres,
Bom tarde
De acordo com os nossos registos, a ave que o Sr. José Manuel Gomes Torres refere deu entrada no CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens. Este animal foi recolhido a 07 de Junho de 2007 e entregue no CERAS no mesmo dia, por intermédio da equipa do SEPNA de Castelo Branco. Posteriormente, foi entregue aos cuidados do PNTI e transferida para o CERVAS, local onde ingressou a 13 de Junho.
Na altura do seu ingresso apresentava uma fractura na pata direita, em inicio de processo de ossificação. Este animal acabou por morrer (cerca de um mês depois do seu ingresso) durante o processo de recuperação.
Aproveitamos para indicar que, em toda a documentação que acompanhou a entrega desta ave no CERVAS, não é mencionado o pedido do Sr. José Manuel Gomes Torres em ser informado do destino da mesma. Informamos também que sempre que um animal é devolvido à Natureza, o CERVAS contacta todos os intervenientes no seu processo de recuperação, desde a recolha até ao final do mesmo, informando-os do mesmo, e convidando a estarem presentes no momento de devolução ao seu habitat natural. Para além disso, o CERVAS disponibiliza informação sobre a evolução do processo de recuperação sempre que a mesma é solicitada.
Convidamo-lo a visitar o blog do CERVAS (em http://cervas-aldeia.blogspot.com), bem como do RIAS - Centro de Recuperação e Investigação de Aves Selvagens (em http://rias-aldeia.blogspot.com), outro centro de recuperação, que tal como o CERVAS se encontra sob gestão da Associação ALDEIA. Desmo modo, convidamo-lo também a visitar as instalações do CERVAS, em Gouveia, fazendo-se acompanhar do seu filho, bastando para isso que nos comunique essa intenção de modo a que seja possível combinar uma data conveniente a ambas as partes.
Com os melhores cumprimentos
Pela Equipa do CERVAS
José Póvoa
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CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens
Apartado 126
6290-909 - Gouveia
Telm: 962714492 / E-mail: cervas.pnse@gmail.com
http://cervas-aldeia.blogspot.com
O CERVAS é uma estrutura que pertence ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) / Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) e que se encontra actualmente sob a gestão da Associação ALDEIA (www.aldeia.org) com o apoio da ANA – Aeroportos de Portugal e outros parceiros. O centro tem como objectivos detectar e solucionar diversos problemas associados à conservação e gestão das populações de animais selvagens e dos seus habitates. As linhas de acção do CERVAS são a recuperação de animais selvagens feridos ou debilitados, o apoio e/ou a realização de trabalhos de monitorização ecológica e sanitária das populações de animais selvagens, o apoio e fomento à aplicação do Programa Antídoto – Portugal www.antidoto-portugal.org, a promoção da sensibilização ambiental em matéria de conservação e gestão dos animais selvagens e o funcionamento como unidade intermédia de gestão e transferência de informação e amostras tratadas através de parcerias científicas.
Donde se conclui que:
- A águia de asa redonda que recuperamos só foi recebida no CERVAS no dia 13 de Junho, seis dias depois de ser recolhida.
- O CERAS de Castelo Branco recebeu a ave no dia 7 de Setembro, tendo esta morrido sensivelmente a 13 de Julho, suponho que já em adiantado estado de putrefacção.
- Nunca fui informado, apesar de ter deixado o contacto (obrigatório) e solicitado várias vezes, do destino da ave. A não ser agora, 3 anos volvidos, quando recebi o primeiro mail referido neste post.
- Se há quem faça um bom trabalho neste campo e mereça o reconhecimento público por ele, também há quem não o faça. Não perdi a oportunidade de dar os meus sinceros parabéns ao CERVAS e felicitá-los pelo trabalho realizado com os mais novos.
Deixo ao critério dos leitores, as conclusões sobre este tema.