"Se as várias estimativas que temos recebido se concretizarem, em 40 anos ficaremos sem peixe"

- Pavan Sukhdev, economista e consultor da ONU, sobre o eventual esgotamento dos recursos piscícolas a nível mundial, em 2050 (In Visão 20/26 Maio 2010)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Abertura a quê?


Mais um final de defeso, mais uma abertura à pesca geral, por assim dizer.
No passado domingo, os ciprinideos e os achigãs tiveram que se haver com os pescadores.
Eu, nós, fanáticos da pesca ao achigã como somos, lá fomos de manhã bem cedo, não para apanhar muitos, porque não pescamos por obrigação mas porque gostamos mesmo, só porque nos apetecia cheirar aqueles cheiros que só se conseguem muito de manhã.
Pouca gente. Nenhum barco. O que se passa? Viemos um dia antes?
Afinal havia motivo, nós é que não sabíamos…
Os achigãs, os tais peixes predadores/invasores e que comem tudo e acabam com as espécies autóctones, devem estar em vias de extinção, só que não sabíamos…
Resultado de um dia de pesca: seis ou sete achigãs, entre os dois pescadores, todos com menos de meio quilo. Que raio de invasor este, que não se encontra em lado nenhum, mesmo por quem lhe conhece os hábitos há muitos anos…

No regresso a casa, faz-se o ponto de situação:
- A água está um nojo, como é possivel que os peixes estejam bem?


- Pesca-se no defeso, com a passividade daqueles a quem pagamos o ordenado para fazerem o que não fazem. Há pescadores de competição embarcada ao achigã que se gabam nos fóruns de pescar no defeso... Se isto não fosse o país que é… mas os bons exemplos chegam-nos de cima. Cada um faz a lei à sua maneira e a fiscalização é inexistente.
- Há quem faça negócios com a venda de achigãs descaradamente em pleno defeso, vendidos ao desbarato de oito euros o quilo, nas margens do Cabril. Apetece dizer: - Oh da Guarda…!


Porque tem que ser assim? O nosso país está a saque? É o salve-se quem puder, mesmo destruindo um património que é de todos? Faz lembrar uma empresa falida que deve ordenados, e onde cada um rouba por onde pode.
Em conversa de loja de pesca, parece que o problema é generalizado, Alqueva incluído.
O mar alentejano que parecia de recursos infinitos, está arrasado. Nada que eu não tivesse adivinhado, escrevi-o várias vezes. Que raio de vida...


Valeu o almoço de grelhada mista com a familia e o facto de a grelha propriamente dita ter ficado em casa, que originou grandes doses de improviso e não nos impediu de almoçar e partilhar o momento. Apesar de tudo, vale sempre a pena ir à pesca...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Barbo Comum

O barbo é um peixe bem conhecido de todos os pescadores de águas interiores. Apresenta o perfil da cabeça ligeiramente convexo, com boca inferior com dois pares de barbilhos. A barbatana dorsal apresenta o raio ossificado a 2/3 da altura da dorsal sendo o perfil posterior da barbatana quase linear e oblíquo relativamente ao perfil dorsal do corpo. O lábio superior é grande e espesso estando o lábio inferior ligeiramente retraído.
Região dorsal é castanha-esverdeada, região ventral branca. Os juvenis apresentam manchas escuras na zona dorsal que desaparecem nos adultos. Durante a época de reprodução os machos apresentam uns curiosos tubérculos nupciais na extremidade do focinho.

Este peixe tem preferência pelos troços médios e inferiores dos rios e vive quase sempre junto ao fundo (bentónico) embora seja usual capturar insectos à superfície. Prefere zonas com pouca ou moderada velocidade de corrente, excepto na época de reprodução em que sobem os cursos de água transpondo os obstáculos com saltos espectaculares.

O barbo comum tem preferência por troços mais profundos, com mais oxigénio e substrato fino. Os juvenis ocorrem em zonas com alguma profundidade, próximas da margem e sem corrente, evitando habitats com muita cobertura arbórea.

Alimentação:
O barbo comum apresenta uma alimentação generalista e oportunista. Alimenta-se principalmente de material vegetal (plantas e algas filamentosas) e larvas de insectos aquáticos. Dentro os insectos aquáticos incluem-se as larvas de dípteros, plecópteros, coleópteros, hemípteros, moluscos e tricópteros. Ocasionalmente ingere areia, cladóceros, insectos terrestres e sementes. Os peixes de maiores dimensões alimentam-se mais alimentos vivos, incluindo lagostins e outros peixes, acabando por se tornar predadores de topo.
Porque é bastante exigente com a qualidade da água, encontra-se em declínio em algumas bacias. A construção de barragens tem levado à destruição de zonas de postura e perda de habitat. Aumento da regularização e extracção de água durante o verão. A extracção de inertes leva ao aumento da turbidez e consequente destruição das zonas de postura. A descarga de efluentes e o aumento da poluição têm sido apontados também como causas do declínio.

A pesca
O barbo pode pescar-se de quase todas as formas: à bóia, ao fundo e até com as amostras dedicadas aos achigãs, em algumas albufeiras em que se tornam particularmente agressivos e, boa parte devido à competição pelo alimento.
Na modalidade de pesca à pluma, com imitações de insectos e pequenos lagostins, torna-se um peixe especialmente interessante sob o ponto de vista desportivo, devido aos seus arranques poderosos e luta interminável, testando os limites do material e da astúcia do pescador.

Por algum motivo é considerado o bonefish português pelos pescadores de pluma…

Fonte: Carta Piscícola Nacional e adaptado.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Destino final da nossa águia de asa redonda, 3 anos depois...


A propósito de um post que coloquei neste espaço no dia 22 de Setembro de 2007, sobre a entrega ao SEPNA de uma ave que recolhemos numa das nossas saídas de pesca, recebi no dia 19 de Abril de 2010 um comentário do sr. Samuel Infante da Quercus, com o seguinte conteúdo:

Caro Sr. Jose Gomes Torres,

Tomamos conhecimento da sua indignação referente a uma águia de asa redonda recolhida por si no dia 7 Setembro de 07 e que fazia alusão à sua entrada no CERAS ( Centro de Estudos e Recuperação de Animais Selvagens de Castelo) centro esse gerido pela Quercus.
Fomos verificar nos arquivos a situação, a qual muito estranhamos, pois a prática comum no CERAS comunicar com as entidades ou pessoas que entram animais ao CERAS a informar do estado da ave e caso ocorra o momento da sua devolução ao meio natural.
Neste caso em particular a ave deu entrada no CERAS no dia 7 de Setembro de 2007 através do SEPNA, foi estabilizado e entregue ao ICNB (PNTI) no dia 12 Setembro. Pois neste período o CERAS estava com a actividade suspensa, devido ao cancelamento do apoio anual que o ICNB dava ao CERAS, tendo sido retomada a actividade apenas alguns meses depois, após ter sido obtido o apoio do CONTINENTE.

Sugerimos que entre em contacto com o PNTI no sentido de averiguar o desfecho deste caso.
Com os melhores cumprimentos,

Pela Quercus
Samuel Infante
Quercus A.N.C.N.- Núcleo Regional de Castelo Branco
R. Dr. João Frade Correia Lote 7, loja direita, fracção B
6000-352 Castelo Branco - PORTUGAL
tel/fax:++351 272 324 272
Skype: quercus_cb
E.mail :castelobranco@quercus.pt
www.quercus.pt
19 de Abril de 2010 11:15

Respondi no mesmo dia o seguinte:
José Gomes Torres disse...
Caro Sr. Samuel,
Suponho que teve conhecimento de um pequeno texto que saiu no Jornal Reconquista na ocasião e sobre este tema. O objectivo desse texto foi só e apenas chamar a atenção dos leitores em primeiro lugar para a necessidade de preservação das rapinas e por outro servir de exemplo de como proceder quando encontram uma ave ferida.
Foi também através do mesmo texto que tive conhecimento de que a ave tinha sido entregue ao CERAS, era uma águia de asa redonda, e tinha uma entorse numa pata. De outra forma, nunca saberia mais nada sobre ela desde a hora em que a deixei na GNR… O jornal, tentou saber mais, para produzir a noticia. Eu resolvi apenas ficar á espera daquilo que me parecia legítimo, pelo facto de a ter entregue….
Não é o primeiro animal que encontro ferido ou fragilizado. Há uns anos encontrei um corvo, por indicação de umas crianças que brincavam na rua e entreguei ao Parque Natural da Costa Vicentina, depois de gastar muitos telefonemas para a GNR (não existia o SEPNA à altura), SPEA, etc, etc… Ao fim de uns bons 10 dias, lá foi um guarda do PNCV recolher o bicho e nem uma caixa de cartão levou…
Infelizmente, raramente o sistema funciona ao contrário do que afirma. O facto de me dizer que a ave foi entregue ao PNTI, e o CERAS não me ter informado disso, dá-me razão ao afirmar que o sistema não funciona ou pelo menos, às vezes funciona mal.
O facto de ter perdido o rasto desta águia de asa redonda, e uma vez que a prática comum no CERAS é comunicar com as entidades ou pessoas que entregam animais e informar do estado da ave e caso ocorra o momento da sua devolução ao meio natural - como refere no seu comentário –, é uma realidade incontornável. No mínimo poderiam ter-me enviado uma mensagem, pelo menos, (deixei o meu contacto, que deve constar do processo que refere) informando da sua transferência para o PNTI. Teria então sido feito o que deve ser feito e eu não tinha perdido o rasto do animal e saberia – como soube agora – que teria sido entregue ao PNTI.
Receio agora que, ao reencaminhar o seu mail para o PNTI, indagando o destino da ave, não obtenha resposta, como aliás já estou habituado.
Mas já que o tema foi abordado e considerando a sua informação, fá-lo-ei e irei aguardar pelos resultados, que certamente irei publicar no blog.
Mais curioso e só para reforçar que há várias coisas não batem certo, a águia foi encontrada e entregue em Maio/Junho de 2007, faltando agora saber onde esteve até ao dia 7 de Setembro que refere como ter sido recebida no CERAS. Basta-me ver o registo do dia em que as fotos foram tiradas para me certificar da data exacta. Onde esteve no intervalo de tempo entre Maio/Junho e 7 de Setembro?
Com os melhores cumprimentos,
Gomes Torres


Seguindo o conselho do sr. Samuel, enviei no dia 21 de Abril de 2010 um mail ao PNTI com o seguinte conteúdo:

Exmos Srs.

Por sugestão da Quercus de Castelo Branco, conforme mail anexo datado de 19 do corrente, gostaria saber qual o destino da águia de asa redonda recolhida por mim e pelo meu filho em 2007 e entregue na ocasião no SEPNA de Castelo Branco.

Referi nesse dia que gostaria de ser informado do destino da ave, tendo deixado os meus contactos (obrigatórios para a entrega) e se esta viesse a ser devolvida à Natureza, gostaria que fosse libertada pelo meu filho.Recordo que esta recolha foi na altura alvo de uma reportagem no Jornal Reconquista, com o intuito de sensibilizar as populações para a protecção das espécies, nomeadamente das rapinas.

Uma vez que o assunto foi retomado - e com legitimidade, pelo Sr. Samuel, agradeço as informações solicitadas.

Com os melhores cumprimentos,
Gomes Torres

No dia 3 de Maio recebo um mail do CERVAS de Gouveia, com o seguinte assunto:

Caro Sr. José Gomes Torres,

Bom tarde

De acordo com os nossos registos, a ave que o Sr. José Manuel Gomes Torres refere deu entrada no CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens. Este animal foi recolhido a 07 de Junho de 2007 e entregue no CERAS no mesmo dia, por intermédio da equipa do SEPNA de Castelo Branco. Posteriormente, foi entregue aos cuidados do PNTI e transferida para o CERVAS, local onde ingressou a 13 de Junho.
Na altura do seu ingresso apresentava uma fractura na pata direita, em inicio de processo de ossificação. Este animal acabou por morrer (cerca de um mês depois do seu ingresso) durante o processo de recuperação.

Aproveitamos para indicar que, em toda a documentação que acompanhou a entrega desta ave no CERVAS, não é mencionado o pedido do Sr. José Manuel Gomes Torres em ser informado do destino da mesma. Informamos também que sempre que um animal é devolvido à Natureza, o CERVAS contacta todos os intervenientes no seu processo de recuperação, desde a recolha até ao final do mesmo, informando-os do mesmo, e convidando a estarem presentes no momento de devolução ao seu habitat natural. Para além disso, o CERVAS disponibiliza informação sobre a evolução do processo de recuperação sempre que a mesma é solicitada.

Convidamo-lo a visitar o blog do CERVAS (em http://cervas-aldeia.blogspot.com), bem como do RIAS - Centro de Recuperação e Investigação de Aves Selvagens (em http://rias-aldeia.blogspot.com), outro centro de recuperação, que tal como o CERVAS se encontra sob gestão da Associação ALDEIA. Desmo modo, convidamo-lo também a visitar as instalações do CERVAS, em Gouveia, fazendo-se acompanhar do seu filho, bastando para isso que nos comunique essa intenção de modo a que seja possível combinar uma data conveniente a ambas as partes.

Com os melhores cumprimentos

Pela Equipa do CERVAS
José Póvoa
--
CERVAS - Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens
Apartado 126
6290-909 - Gouveia
Telm: 962714492 / E-mail: cervas.pnse@gmail.com
http://cervas-aldeia.blogspot.com

O CERVAS é uma estrutura que pertence ao Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) / Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) e que se encontra actualmente sob a gestão da Associação ALDEIA (www.aldeia.org) com o apoio da ANA – Aeroportos de Portugal e outros parceiros. O centro tem como objectivos detectar e solucionar diversos problemas associados à conservação e gestão das populações de animais selvagens e dos seus habitates. As linhas de acção do CERVAS são a recuperação de animais selvagens feridos ou debilitados, o apoio e/ou a realização de trabalhos de monitorização ecológica e sanitária das populações de animais selvagens, o apoio e fomento à aplicação do Programa Antídoto – Portugal www.antidoto-portugal.org, a promoção da sensibilização ambiental em matéria de conservação e gestão dos animais selvagens e o funcionamento como unidade intermédia de gestão e transferência de informação e amostras tratadas através de parcerias científicas.

Donde se conclui que:
- A águia de asa redonda que recuperamos só foi recebida no CERVAS no dia 13 de Junho, seis dias depois de ser recolhida.

- O CERAS de Castelo Branco recebeu a ave no dia 7 de Setembro, tendo esta morrido sensivelmente a 13 de Julho, suponho que já em adiantado estado de putrefacção.

- Nunca fui informado, apesar de ter deixado o contacto (obrigatório) e solicitado várias vezes, do destino da ave. A não ser agora, 3 anos volvidos, quando recebi o primeiro mail referido neste post.

- Se há quem faça um bom trabalho neste campo e mereça o reconhecimento público por ele, também há quem não o faça. Não perdi a oportunidade de dar os meus sinceros parabéns ao CERVAS e felicitá-los pelo trabalho realizado com os mais novos.

Deixo ao critério dos leitores, as conclusões sobre este tema.